Cenários são narrativas de ambientes alternativos nos quais as decisões de hoje podem vir a ser executadas[1]. Os Cenários ilustram contextos estratégicos futuros por meio de narrativas técnicas e simbólicas que podem ser mais ou menos detalhadas.
O desenvolvimento e a utilização de Cenários podem ser particularmente úteis em contextos de elevada incerteza, onde a mudança pode vir de áreas aparentemente distantes do core business da empresa, tornando-se mais difícil distinguir o essencial do acessório.
O espaço deste artigo é escasso, mas não é difícil, no mundo atual, e mesmo de forma telegráfica, defender a ideia da prevalência de um conjunto de incertezas estruturais que afetam a globalidade dos mercados e setores económicos: pandemia, guerra na Europa, crise energética (caos energético?), fraturas políticas na União Europeia, desvalorização do Euro, inflação (possivelmente descontrolada?) e subida das taxas de juro. E, se quisermos olhar só um pouco mais para o futuro, podemos acrescentar a estas fontes de incerteza, o envelhecimento rápido da população, as alterações climáticas, a desertificação, a escassez de água, o aumento das desigualdades ou as crescentes ameaças à cibersegurança.
Mas terão as PME recursos (tempo, dinheiro, talento) para investir no desenvolvimento ou utilização de Cenários?
- Sim, se optarem por processos simples (mas não simplistas). Muitas vezes associada à utilização por grandes empresas, grupos económicos e governos, a Metodologia dos Cenários pode ser particularmente útil e aplicável a PME – principalmente na sua forma de desenvolvimento e aplicação mais pragmática a que chamo “Fast Scenarios” – promovendo a confiança na tomada de decisão e a sensibilidade estratégica dos seus líderes e colaboradores, num contexto de negócio marcado por níveis de incerteza excecionalmente elevados. De facto, dependendo do contexto específico e dos recursos disponíveis, a experiência tem-me mostrado que é possível trabalhar com “Fast Scenarios”, incluindo a seleção de incertezas cruciais e de elementos predeterminados e a definição de ideias-chave distintivas de cada Cenário, avançando daí para a ação, através de implicações, opções e a construção de roadmaps estratégicos (e aprendendo muito no processo).
- Sim, se trabalharem em conjunto (sem abdicar de competir, naturalmente). As PME (do mesmo setor e/ou da mesma cadeia de valor e/ou da mesma região) partilham grandes desafios contextuais que não controlam, mas que têm o potencial de afetar dramaticamente o seu futuro. Será do interesse de todas que, pelo menos, parte do trabalho de cenarização (por exemplo, o scanning de forças de mudança ou a construção de narrativas de futuros possíveis) possa ser feito de forma partilhada, com benefícios óbvios: poupança de recursos, criação de redes, aprendizagem coletiva. Depois, cada empresa pode fazer o seu trabalho específico de ligação à Estratégia e à tomada de decisão (por exemplo, a definição de portefólios de investimento, estratégias de crescimento e internacionalização, foco de new business, etc.), considerando os seus recursos, cultura, oferta e vantagens competitivas.
De facto, as PME são, pelo menos nas economias mais dinâmicas, atores-chave da inovação e da experimentação de novas soluções e modelos de negócio. Em regra, têm processos de tomada de decisão mais curtos e maior flexibilidade, muitas vezes desenvolvendo e aplicando tecnologias disruptivas, criando produtos e serviços e oferecendo oportunidades de emprego viradas para o futuro. E os Cenários, se aplicados de forma simples, prática e partilhada, podem contribuir de forma decisiva para a gestão de risco e a tomada de decisão das PME, particularmente nestes tempos de grande incerteza.
[1] Ogilvy, Jay, and Peter Schwartz. “Plotting Your Scenarios.” GBN. 2004.
Este artigo trata-se de uma republicação no âmbito de uma parceria com a PME Magazine