Medicina sem definições não é Medicina
Mas, afinal, o que é a Medicina? Como Alexandre Valentim Lourenço enfatiza na sua recente crónica no Público, a Medicina agora não é apenas uma disciplina; é um conjunto de ciências que interagem de maneira pluridisciplinar para integrar áreas da engenharia à inteligência artificial, da robótica às tecnologias de comunicação.
A Medicina já não é mais uma ciência. Além das vantagens inegáveis que estas múltiplas interações implicam, existe crescente necessidade de dotar os Médicos de capacidades de Gestão: da Gestão de recursos materiais que esta interação plural requer, da Gestão de pessoas que inelutavelmente se encruzam por estas áreas, e da Gestão também das expetativas dessas pessoas, capacitando-as de ferramentas para não se perder o foco no paciente como o objetivo major da Medicina.
E pode ser um médico um bom gestor?
Tal como a indagação contrária, a disparidade de respostas que podem surgir destas questões pode apenas chegar a uma conclusão comum: para Médicos e para Gestores, as pessoas são o propósito da sua profissão. Hoje, e cada vez mais, um Médico, sem sequer se aperceber, é um Gestor. E com uma educação mais ou menos formal, cabe ao Médico gerir e interagir. Tal como um Gestor faz.
Da Anatomia às folhas de Excel
Quando me inscrevi na Pós-Graduação em Gestão da Nova SBE Executive Education, deparei-me com uma definição de Gestão que não fazia parte do meu léxico anterior. Das Finanças ao Marketing, dos Recursos Humanos às Operações, não pude deixar de notar que a pluridisciplinaridade que hoje abrange a Medicina é um conceito adquirido no dicionário da Gestão.
Curioso para alguém que, como eu, tem vindo a fazer um percurso numa ciência que (estava eu convicta) se baseava em dados mais concretos do que a polivalência atual da Medicina obriga. E da Gestão também. Curioso também o facto de a Medicina ter nascido de pessoas para as pessoas. Apercebi-me na Pós-Graduação que a Gestão também. Aliás, o que seria dela se, direta ou indiretamente, as pessoas não fizessem parte da equação?
Tudo se resume às pessoas
Penso que cheguei a uma conclusão. Depois de um curso de Medicina e da Pós-Graduação em Gestão, não posso minorar a capacidade de um médico ser um bom gestor. Tal como não posso deixar de enfatizar que um (bom) gestor tenha capacidade de ser um bom médico. Porque, no final, tudo se resume às pessoas.
Delas e para elas, os bons e os maus médicos, tal como os gestores, arquitetos de relações e curadores de maleitas de empresas ou de pessoas, de forma mais ou menos óbvia, acercam quem os procuram.
Face a estas múltiplas semelhanças, o meu resumo da Pós-Graduação em Gestão cruza-se com o culminar de 6 anos a estudar Medicina e resume-se em poucas linhas: em ambas estas áreas não há uma resposta; há sim a capacidade de fazer dela a mais apropriada no seu contexto. Fazendo a analogia com o conhecido adágio: na Medicina como na Gestão nem sempre, nem nunca.