O aprofundamento do papel das business schools no ambiente de negócios e ecossistemas de inovação tem, felizmente, vindo a acontecer um pouco por todo o mundo. A combinação de teorias, evidências, práticas e um vasto grupo de stakeholders para descobrir, definir e desenvolver soluções a partir do campus não só maximiza o terceiro pilar da Academia (o de serviço à sociedade, para além da educação e da investigação), como também expande a lógica da inovação aberta e do papel das escolas de negócios nesta jornada.
Para evidenciar o alcance deste movimento, que está alinhado com o apelo da Comissão Europeia à inovação e o empreendedorismo nas instituições de ensino superior, partilhamos alguns casos que ultrapassam os exemplos de Portugal neste esforço concertado entre a Academia, os seus parceiros externos e seus agentes internos. São exemplos que refletem múltiplas nuances de diferentes autores ligados à estratégia, ao desenvolvimento e à colaboração na inovação organizacional: de Peter Drucker a Ernest Gundling, de Henry Chesbrough a Clayton Christensen.
Os casos relacionados estão sempre a elevar o papel dos alunos enquanto elemento de arranque. O conhecimento transmitido por professores e investigadores é por eles utilizado para identificar oportunidades e desenvolver modelos de negócio - seja em nome próprio, seja para responder aos desafios apresentados pelas empresas e instituições que se conectam com as universidades. Estas podem apoiar ideias de alunos antes mesmo da formalização de uma startup, ou qualquer iniciativa de Corporate Venturing ser constituída: consoante a respetiva estratégia e agenda, cada organização participante do ecossistema fornece o suporte necessário, acompanhado pelo conhecimento acionável transmitido pela Academia, para que os projetos evoluam para modelos e soluções viáveis. Esta jornada de maturação da inovação pode partir “do zero” e ir até a implementação, sem descurar do essencial triple bottom line de People, Planet and Profit que caracteriza as escolas mais progressistas da atualidade.
A Judge Business School, parte da Universidade de Cambridge, oferece o Accelerate Cambridge Programme, concebido para ajudar os alunos a desenvolver hipóteses embrionárias de negócio. As empresas parceiras oferecem mentoria, financiamento inicial e recursos para transformar essas ideias em protótipos de resultados mensuráveis. Na Wharton School, através do Penn Wharton Innovation Fund, os alunos recebem investimento pre-seed de um fundo e têm acesso a mentoria, tecnologia e eventualmente financiamento adicional por parte das organizações externas participantes. Estas, em troca, negoceiam participações futuras ou integram estes esforços na sua agenda de inovação aberta.
Já o programa Challenge+ da HEC Paris percorre noves meses de formação aplicada, validação de protótipos e desenho estruturado de um modelo de negócio para os alunos. Empresas, fundos corporativos e instituições participam através de suporte em investigação e desenvolvimento e ajudam na preparação de um plano de negócios que possa atrair financiamento complementar.
E poderíamos citar muitos outros exemplos: o Massachussets Institute of Technology Sandbox Innovation Fund Program, da MIT Sloan School of Management, que gere um fundo-consórcio de empresas a acompanhar a agenda de interesses de cada um dos “acionistas”; ou o HackLBS da London Business School (LBS) que reúne consultoras, investidores e empresas no clássico modelo de 48h, no qual criativos, gestores iniciais e coders apontam soluções possíveis, naturalmente em estágio inicial, para grandes temas reais do mundo e da sociedade – o ponto de partida para uma viagem que pode levar estes e outros projetos para o Institute of Entrepreneurship and Private Capital da LBS.
Os resultados destes esforços? Serão o foco de um próximo artigo.
E tudo isso é apenas a ponta do iceberg das colaborações from campus to market, from market to campus e demais derivações, a explorar modelos e outros stakeholders. Como a DTU - Technical University of Denmark, que trabalha arduamente há mais de uma década para colher os frutos de um projeto assente na sensibilização e apoio a investigadores académicos para que os seus projetos tenham uma maior visão de mercado e aplicação; ou o Entrepreneurial Institute da New York University (NYU) que, através de iniciativas como um Innovation Venture Fund, desenvolve e comercializa diretamente as ideias dos seus alunos.
Estas são ações concretas a favor da cadeia de valor da inovação, e que ocorrem em todos os países economicamente dinâmicos e competitivos. A convergência de interesses entre Academia, investidores, alunos e organizações - incluindo a aproximação entre escolas de negócios e de ciência e tecnologia, parcerias público-privadas e um auscultar mais atento às perspetivas da sociedade civil - são essenciais para materializar o futuro que tencionamos transformar em realidade, a partir do conhecimento e da recolha de benefícios para todas as partes envolvidas.
Este texto trata-se de uma republicação de um artigo de opinião originalmente publicado na Exame.