primeiro fluxo de resíduos a ter metas definidas pela Comissão Europeia foi o das embalagens, tendo Portugal vindo a cumprir os objetivos em praticamente todos os materiais (com excepção do vidro). Estes resultados são consequência de vários fatores, mas, acima de tudo, devem-se à estabilidade das políticas públicas dentro do setor dos resíduos produzidos em nossa casa. A realidade é que a estratégia aprovada há 20 anos, no âmbito da gestão de resíduos, não sofreu grandes alterações ao longo das várias legislaturas e das diferentes cores políticas, nem mesmo durante o período da crise recente. Ao longo dos anos, foram feitos investimentos em infraestruturas de recolha e tratamento dos diferentes tipos de resíduos e as empresas, de uma forma generalizada, não abdicaram das suas responsabilidades enquanto produtores de resíduos.
Há 20 anos, começaram a ser desenvolvidas inúmeras campanhas nacionais de comunicação e sensibilização.
As campanhas tinham como alvo a população em geral, sendo complementadas com iniciativas locais e municipais, junto das escolas. Estas permitiram chegar ao início da crise económica de 2011-16 com uma população consciencializada para a necessidade da reciclagem começar em casa de cada um, já que são produzidos diferentes fluxos de resíduos numa residência. Por outro lado, as empresas também desempenharam o seu papel, propagando mensagens que promoviam boas práticas, com o objetivo de alcançarem um novo posicionamento estratégico, face a um consumidor cada vez mais sensível a esta causa. Em alguns casos, podemos até questionar se não estaríamos perante um green washing. No entanto, estas campanhas acabaram por contribuir para uma população ainda mais informada e empenhada na causa ambiental.
Este vídeo apresenta o exemplo de uma campanha lançada em 2000 pela Sociedade Ponto Verde sobre reciclagem.
As crianças passaram a compreender o significado lato da palavra “poupança”.
No final da década passada, uma instituição bancária, a propósito do Dia Mundial da Poupança, promoveu um estudo que avaliava o sentido de poupança nas crianças portuguesas entre os 6 e 13 anos. Surpreendentemente, além da noção de que poupar é “não gastar muito”, constatou-se que as crianças compreendiam também ideias mais concretas e específicas relativas à necessidade ecológica de poupar: naquela altura cerca de 20% dos jovens associavam poupança a boas práticas ambientais como poupar água ou energia. Por outras palavras, passou a existir entre o público mais jovem uma consciência ecológica transposta para o quotidiano. Seria interessante uma nova auscultação, mas é possível afirmar que os resultados então obtidos resultaram certamente de uma maior sensibilidade para o tema e, acima de tudo, das diversas campanhas de comunicação e sensibilização desenvolvidas na época. Assim, foi possível confirmar o impacto e a importância das mesmas ontem, hoje e amanhã.
Estas iniciativas promoveram a mudança de hábitos e a criação de rotinas.
Por isso, as campanhas de sensibilização devem ser bem estruturadas e contínuas ao longo do tempo. Atualmente, estas campanhas são praticamente esporádicas e pontuais. Foram substituídas por notícias nos órgãos de comunicação social através dos meios tradicionais ou das redes sociais sobre objetivos de sustentabilidade das empresas ou decisões por parte da Comissão Europeia e/ou governos nacionais.
Se nos concentrarmos nos resíduos produzidos em casa, sabia que atualmente existem redes de recolha para praticamente tudo?
Desde óleos alimentares usados a rolhas, passando por cápsulas de café, embalagens, aparelhos elétricos e eletrónicos, lâmpadas, pilhas, pneus, óleos dos automóveis, medicamentos fora de validade e respetivas embalagens, papel de impressão e escrita. Sobram alguns resíduos, mas, em alguns casos, a médio prazo passarão a estar disponíveis redes de recolha também para resíduos orgânicos e embalagens que contenham resíduos perigosos. No entanto, esta informação não é amplamente comunicada.
A comunicação permite-nos angariar clientes e embaixadores, para os desafios que temos pela frente em matéria de sustentabilidade ambiental.
Quando comunicamos boas práticas a nível de sustentabilidade ambiental (energia, mobilidade, consumo de água ou lixo marinho), o impacto é transversal, como o estudo atrás referido confirma.
Por isso, as campanhas de comunicação e sensibilização à escala nacional deverão estar sempre presentes em qualquer estratégia de sustentabilidade ambiental.
Esta é uma necessidade mais premente do que nunca, tendo em conta a ambição crescente das metas e objetivos nacionais e europeus. Não sendo de forma alguma apologista de mais Estado, mas sim um crente no impacto que a comunicação e a sensibilização têm na mudança efetiva de comportamentos, existem duas hipóteses:
1. quem tem a responsabilidade legal por gerir o resíduo gerado executa as campanhas;
2. o Estado incorpora a responsabilidade de sensibilizar a população, financiando as campanhas através de quem (pelo menos) tem responsabilidades legais a cumprir.
Os resultados até agora obtidos e os desafios assim o determinam.