Cuca Maria (como carinhosamente me chamava), não te preocupes, prometo que chegará um momento em que serás indiferente a este tema e a esta pessoa. Então saberás que és livre". Mal percebi na altura como - com a sua habitual sabedoria e palavras diretas - a minha querida irmã - que já era adolescente quando nasci e partilhou generosamente o seu quarto comigo e com os meus brinquedos enquanto tirava a licenciatura em Direito e, inesperadamente, faleceu tragicamente na semana passada - estava a guiar-me para o desenvolvimento de Equanimidade.
Uma árvore não considera se aqueles que procuram o seu abrigo merecem ou não a sua sombra e partilha o seu perfume mesmo com aqueles que a cortam. É a esta "indiferença" metafórica ou "Equanimidade" que a minha irmã se referia. Talvez isso seja um objetivo demasiado elevado ou absurdo de ter como seres humanos: tratar todos da mesma forma, não fazer diferenças, e potencialmente servir, com os nossos talentos, todos da mesma forma, sem "especialismos". O nosso sistema biológico, particularmente o nosso cérebro, parece estar condicionado à sobrevivência, à perceção “ganho-ou-perda” das situações, à consideração com especial atenção ou "amor" daqueles que nos podem dar o que acreditamos que nos falta. Quando os nossos cérebros nos levam a percecionar ataque, o nosso modo padrão do sistema mente-corpo é acionado para o modo habitual de combate-fuga-ou-congelamento. E os nossos pais, educadores e amigos bem-intencionados têm-nos dito muitas vezes "não fiques aí, faz qualquer coisa". Então tendemos a correr como baratas tontas, enganando as nossas mentes para acreditar que a atividade é significativa apenas por ser atividade... de alguma forma silenciando a nossa profunda ânsia de propósito com o barulho da nossa corrida.
Tendo casado aos 23 anos, não demorou muito até o meu sábio marido (pouco tempo depois ex-marido) me acautelar: "vives a tua vida como se estivesses a correr sobre areia movediça". Foi precisa a dor de um divórcio e exaustão extrema para eu entender a profundidade da sua metáfora. E para mudar. Passar de um preconceito de atividade para uma postura reflexiva. Para experimentar - nas palavras do "pai do mindfulness no Ocidente" Thich Nhat Hanh - "não faças qualquer coisa, fica aí!". Pode dizer-se que aprendi a ser mais como uma árvore e menos como uma corredora. Mais quietude, menos julgamento e mais equanimidade.
Durante a nossa sessão Adam's Choice Dare to (Un)learn – Find Within Your Self, desafiámos os nossos participantes entusiastas a desaprenderem. A voltarem a ser crianças e desenharem uma Árvore da Vida, visualizando a sua vida preenchida como se fosse uma Árvore. Partilhámos um modelo simples inspirado no trabalho de Karl Jung e Klaus Moller (entre outros autores) onde:
- As raízes podem representar as nossas crenças e atitudes (estão a limitar-nos ou a servir-nos bem neste momento?);
- O tronco pode retratar os nossos objetivos (estamos sempre a lutar por mais ou estamos a desfrutar da viagem para os nossos objetivos?);
- Os ramos podem ser símbolos dos nossos talentos e de como interagimos com os outros (estamos a "enterrar" os nossos talentos ou estamos a melhorá-los e a colocá-los ao serviço?);
- A presença de frutos e flores pode espelhar o nosso propósito e impacto (estamos vazios ou estamos a criar "fruto" para impactar uma vida maior do que a nossa?).
Como Thomas Merton aconselha: "Aquele que tenta agir e ajudar outros ou o mundo sem aprofundar a sua própria auto-compreensão, liberdade, integridade e capacidade de amar, não terá nada a dar aos outros." Tenho esperança que a nossa poderosa metáfora "Se eu fosse uma árvore" nos inspire a uma maior autoreflexão e a encontrarmos dentro de nós mesmos o alimento de que precisamos para levarmos vidas felizes e criativas.