Sou da opinião que tem de ser simples viver com propósito porque é dele que vem a nossa maior fonte de energia e capacidade para agir no mundo e, em termos profissionais, a nossa maior capacidade produtiva. Sem ele, agimos automaticamente e sem direção. Agimos sem criatividade e sem capacidade de crescimento.
Por isso, quando penso em propósito, penso na intenção com que agimos nas nossas vidas e na forma como nos sentimos quando o fazemos. Não existem propósitos melhores que outros, nem propósitos iguais. Existe, sim, o nosso propósito e é com ele que temos de estar alinhados.
No outro dia cruzei-me com uma entrevista a um vendedor de revistas em Nova Iorque. O entrevistador perguntou-lhe se ele se sentia realizado com o que fazia, ao que ele terá respondido: “O meu propósito é servir todos os que aqui vêm comprar uma revista, fazê-los sorrir e sentir que contribuí mais um pouco para a sua felicidade”.
O propósito tem de ser assim tão claro para ser útil, tem de ser uma narrativa que nos dá força para agir e é com base nessa clareza que partilho a minha forma de o ver para que cada um se inspire a descobrir o seu próprio.
Assim, parece-me que o Propósito se manifesta quando se dá a combinação entre 3 dimensões. No “concreto”, no “agora” e no “futuro”. A meu ver, é algo que se sente, é mais emocional do que racional, logo, a atenção às emoções é essencial.
Gostar do que se faz em concreto
Pensa-se que pode ser um luxo fazer-se o que se gosta, mas não é verdade, é uma necessidade. Quando se gosta de alguma coisa, fica-se mais competente, com maior capacidade de absorção e com muito mais apetência para o crescimento. O gosto por alguma coisa não pode ser visto como um luxo ou como um preciosismo, tem de ser visto como um requisito. Sei bem que não se consegue adorar tudo o que se faz. Contudo, gostar da globalidade das coisas que fazemos em concreto é um ótimo indicador para agir com propósito.
O que fazemos faz sentido para nós
O conjunto dos nossos valores pessoais e da nossa vivência formam a nossa narrativa interior e nós navegamos dentro dessa narrativa. No fundo, contamo-nos uma história sobre aquilo que é a vida e sobre o papel que exercemos nela, logo, é importante gostarmos da nossa história e do papel que temos nela.
Posso dar o meu exemplo pessoal: quando era advogado, a minha narrativa pessoal era a de que o meu futuro iria ser estar sentado a olhar para um ecrã e a definhar. Como é evidente, eu estava infeliz e deprimido, pois aquela não era a narrativa que queria para a minha vida. A culpa era da advocacia? Não. A lição era de que eu não me identificava com aquela história, logo, era tempo de encontrar uma diferente.
Gostar do que se será no futuro
Por fim, vemos que agimos com propósito quando tudo aquilo que fazemos vai dar a um futuro apelativo. Quando abri a minha primeira escola de artes marciais, tanto limpava o chão como fazia um Excel e, claro, dava aulas. No entanto, todas as atividades serviam o meu propósito, que era o de ter uma academia profissional onde eu pudesse capacitar pessoas através das artes marciais.
Não importavam as atividades, importava para o que serviam.
É aqui que faz a diferença agir-se com ou sem propósito pois uma tarefa baseada em propósito torna-se uma realização, já o contrário é, apenas, uma obrigação.
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Portanto, ter propósito não tem de ser uma meta impossível. Tem de ser algo que se manifesta nas pequenas coisas que fazemos e que nos faz gostar de quem somos e daquilo que poderemos vir a ser.
É na tentativa permanente de alinhar estas 3 dimensões que se vai manifestando o nosso propósito e é de lá que surge a nossa motivação para continuar a crescer permanentemente.