É possível que o primeiro pensamento do leitor, diante deste título, seja algo como “o autor deve ser brasileiro ou, no máximo, alentejano”. Nada disso: o gerúndio está aqui para nos lembrar que tudo na vida é um contínuo em transformação – o que inclui temas tão díspares quanto a genética (editada), a mineração (no espaço), a energia (what’s next?) e a inovação aberta, que impacta todas as organizações que leem a Exame. Neste caso, um processo de transformação onde mais stakeholders, com uma perspetiva mais alargada em termos de processo, podem fazê-la acontecer a partir de uma business school.
Nos últimos 20 anos, os conceitos e as práticas da Inovação Aberta foram redefinidas de modo a acompanharem o espírito do tempo. Embora a obra original de Henry Chesbrough não seja regida diretamente por este modelo, efetivamente o entendimento mais disseminado da sua implementação tem sido, essencialmente, a vantagem competitiva gerada por modelos de negócio baseados em tecnologia e que são acelerados graças à intervenção de stakeholders externos, nomeadamente startups.
Contudo, e com quase um quarto do século XXI já percorrido, o funil clássico da teoria e prática da Inovação Aberta tem vindo a expandir-se. Não apenas porque as tecnologias digitais passaram a ser encaradas de forma agnóstica, enquanto um meio para múltiplos fins, mas também porque muitos mais parceiros estratégicos ganharam proeminência na construção de futuros possíveis para um negócio: comunidades, consumidores criativos, investigadores, doers, investidores, estudantes, empreendedores, startups, outras empresas do setor, decisores políticos e muitos mais.
Este grupo alargado de agentes acompanha uma outra mudança: a sua participação deixa de estar orientada sobretudo à geração de ideias e possibilidades de negócio a serem posteriormente desenvolvidas, e passa a ser parte de toda a cadeia de valor enquanto colaboradores teóricos, empíricos, e de validação. A cadeia de valor da inovação passa a poder ser gerida de ponta a ponta de forma aberta – desde a definição de um portfólio de inovação e geração de insights até à propriedade intelectual e à escalabilidade. Isso significa não só diversidade de formas de estar, mas sobretudo de papéis técnicos, na medida em que fire-starters, builders e managers trabalham e contribuem de forma consecutiva para fazer a ponte entre estratégia, explore e exploit.
Este movimento encaixa de forma perfeita na Academia, nomeadamente em escolas de gestão, economia e negócios, na medida em que todas as áreas de conhecimento ligadas a estas disciplinas são necessárias para percorrer esta cadeia de valor. Embora não desenvolvam, necessariamente, a investigação fundamental “clássica” que caracteriza a transferência tecnológica da Academia para o mercado, as escolas de negócios possuem tudo o que é necessário para realizar a transferência de conhecimento que estabelece o equilíbrio entre as dimensões de mercado e sociedade, inovação e gestão, negócios futuros e presentes, pensamento crítico e pragmatismo, disrupção e visão sistémica das suas consequências.
Assim, este reimaginar da Inovação Aberta a partir de uma escola de negócios gera benefícios tangíveis para uma comunidade académica alargada, que não tenciona permanecer isolada e deseja utilizar o seu poder transformador para responder a uma sociedade e a um ambiente de negócios que necessita de mais para que a mudança que desejamos ver no mundo possa efetivamente acontecer.
Quando uma escola de negócios assume a possibilidade de ser a dinamizadora de projetos from campus to market, from market to campus e from campus to campus, o conhecimento que é lá produzido passa a ser traduzido e disseminado em novos formatos e contextos. Essa estrutura pode ser aplicada na construção de prosperidade sistémica a partir de investigação interna, ou de outras áreas de conhecimento, e que precisam ser transformadas em soluções, bem como a partir da visão perspicaz de estudantes e empreendedores, com mentalidade internacional, que possuem um radar de oportunidades conectado capaz de validar novas ideias de negócios enquanto aprende como construí-las.
Esta experimentação aplicada incorpora plenamente o espírito do Project / Problem Based Learning (PBL) enquanto abordagem pedagógica eficaz para os negócios e a economia. Neste contexto, o esperado terceiro pilar da Universidade – a transferência de conhecimentos para servir a sociedade, além do Ensino e da Investigação – ganha força e destaque que merece no século XXI. Uma escola com um conjunto de ações que a posicione como um laboratório vivo abre naturalmente as suas portas à diversidade, à colaboração e a casos de uso aplicáveis no ambiente económico – tudo o que um país necessita para ganhar competitividade de forma estruturante.
Este texto trata-se de uma republicação de um artigo publicado na Exame - leia o original aqui.