ara Anne-Laure Fayard, Professora Auxiliar na New York University, a resposta a estas perguntas não reside na declaração do óbito do escritório, mas na reestruturação destes espaços físicos. Uma reconstrução que apelidou de “escritório híbrido”, dependente de dias de teletrabalho e outros de interação nas sedes das organizações.
Em investigações feitas pré-pandemia, foi concluído que “alguns trabalhadores em países ricos industrializados conseguiam trabalhar eficazmente a partir de casa, e 80% destes gostaria de fazê-lo, pelo menos durante algum tempo”*. Este tipo de trabalho favorece, muitas vezes, uma redução acentuada dos custos de produção e pode também aumentar a produtividade. O teletrabalho já era, aliás, em muitas organizações, uma tendência emergente, mas com a imposição do trabalho remoto, começaram a surgir alguns problemas e, “mesmo os autoidentificados como introvertidos, que aproveitavam cada oportunidade para trabalhar de casa, descobriram que pode ser demasiado da mesma coisa boa”*. É que, segundo Anne-Laure Fayard, os trabalhadores precisam daquilo a que o psiquiatra Edward Hallowell chama “momentos humanos”: encontros cara-a-cara, que permitam a criação de empatia e conexão emocional. Quando as únicas interações com os membros da equipa são feitas pela webcam, a comunicação torna-se mais difícil e impessoal, pois perdem-se pistas não-verbais e confiança. Para além disso, a proximidade pode aguçar a criatividade:
“Quando pessoas com diferentes funções e de departamentos distintos colaboram, conseguem resolver problemas complexos e gerar novas ideias inovadoras. Esta colaboração, muitas vezes, é espoletada por encontros por sorte – em conversas em torno da máquina do café ou da impressora –, nas quais se identificam outros que podem ajudar. […] Estudos confirmam-no: o grupo The Human Dynamics, do MIT Media Lab, recolheu dados dos cartões eletrónicos dos funcionários e descobriu que as interações cara-a-cara frequentes, fora das reuniões formais, eram a melhor forma de prever a produtividade”, explicou Anne-Laure Fayard, num artigo publicado na Harvard Business Review.
A emergência de tecnologia que permite automatizar muitas tarefas significa que a criatividade vai ser crescentemente valorizada no mundo laboral, mas, como já vimos, a inspiração beneficia do contacto humano. Por esta razão, a professora da New York University defende que “o escritório de amanhã terá de ser muito diferente daquilo a que estamos acostumados, e três características irão defini-lo"*:
- Desenhado para momentos humanos – a humanização do trabalho pressupõe locais construídos para a promoção de encontros entre trabalhadores, para uma pequena troca de palavras ou ideias, com um design confortável, acolhedor, e com atenção ao isolamento acústico.
- Customizado pela tecnologia – a tecnologia pode ajudar o trabalho a tornar-se mais eficiente e a criar formas novas para os colaboradores manterem o contacto e trocarem ideias.
- Gerido para encorajar ligações – os líderes precisam de assegurar que, quando os trabalhadores se deslocam até ao escritório, sintam que é permitido socializar com os colegas. As pausas para café e as happy hours devem ser encorajadas, para os funcionários e, ocasionalmente, os clientes. Estes rituais de convivência, assim como os “cafés virtuais”, são também benéficos para aumentar a produtividade no trabalho a partir de casa.
“O que a história e a nossa experiência contemporânea mostram é que infraestruturas de apoio, tecnologias e processos organizacionais são necessários, mas não suficientes para uma produção colaborativa. Ainda são necessários pontos de encontro em pessoa, que providenciem oportunidades para clarificar e alinhar expectativas, refrescar regras e procedimentos no trabalho, e construir e reavivar a confiança. Num mundo em que se permita e se impulsione o trabalho em casa em grande escala, é cada vez mais importante juntar as pessoas nos escritórios para satisfazer essas necessidades humanas”*.
*Excerto retirado da edição março-abril da Harvard Business Review, da autoria de Anne-Laure Fayard, John Weeks e Mahwesh Khan.