as será que alguma vez pudemos dar-nos ao luxo de escolher não aprender, não evoluir, não crescer? Mesmo antes da pandemia, já os rápidos avanços tecnológicos, a crescente interdependência económica e a constante instabilidade política se cruzavam para tornar o futuro cada vez mais nebuloso. A incerteza tornou-se numa certeza tão constante que gerou acrónimos como VUCA ou TUNA (Turbulent, Uncertain, Novel e Ambiguous). Se 2020 nos ensinou alguma coisa, foi que nada deve ser considerado uma surpresa. E que, por isso, a melhor estratégia para estar preparado para o futuro, é estar preparado para aprender, desaprender e reaprender constantemente e de forma evolutiva. Nunca a frase, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”, atribuída a Charles Darwin, fez tanto sentido.
De acordo com os especialistas, cerca de 40% do que os estudantes universitários aprendem hoje, será obsoleto no espaço de uma década e os empregos que ocuparão nessa altura ainda não existem hoje. O relatório sobre o futuro do emprego do World Economic Forum realça que as 10 funções com mais procura atualmente não existiam há 10 anos. No entanto, ainda que a curiosidade e o desejo (e necessidade) de aprender caracterizem a nossa infância, à medida que crescemos, vamos perdendo essas características.
Depois da entrada no mercado de trabalho, e ao longo do seu percurso profissional, a maioria das pessoas tende a ficar-se pelo que sabe e prefere evitar contextos ou situações que as empurre para fora da sua zona de conforto e as leve a aprender algo novo.
Os especialistas em mudança organizacional concordam que um dos maiores riscos para o sucesso dos processos de transformação é a resistência das pessoas à mudança e à necessidade de reverem os seus mapas mentais.
A complexidade do contexto em que habitamos exige que tenhamos a capacidade de compreender e progredir em situações indefinidas, num estado permanente de adaptação – continuamente a desaprender regras e códigos antigos e a reaprender novos. Requer que tenhamos a coragem de questionar pressupostos e a forma “como sempre foi feito”, desafiar paradigmas, e estarmos dispostos a desenvolver novos hábitos, métodos e competências relevantes para o nosso trabalho, indústria, carreira ou para a nossa vida. E, num mundo onde a mudança é exponencialmente mais rápida, a agilidade com que efetuamos esse processo de desaprendizagem e reaprendizagem (learning agility) é, por isso, a competência-chave para a proficiência na mudança e o sucesso futuro quer de pessoas, quer de organizações.
À medida que a economia global evolui, a competição por novas funções e novas posições no xadrez do mercado empresarial atingirá novos níveis e serão aqueles que proativamente trabalharam para expandir e diversificar o seu leque de capacidades, aprendendo novas competências, que estarão melhor posicionados para tirar o melhor partido da (esperada) retoma. A aprendizagem não é um dado adquirido, mas sim uma escolha de cada indivíduo e organização. E, num mundo que muda todos os dias, então a melhor escolha possível é aprender continuamente.
Este artigo é uma republicação no âmbito da parceria entre a Nova SBE Executive Education e a PME Magazine.