Este estudo foi levado a cabo por estudantes do Mestrado em Gestão Internacional CEMS da Nova SBE e contou com uma amostra de 177 estudantes portugueses e estrangeiros (27 nacionalidades), uma segunda amostra de 167 pessoas já inseridas no mercado de trabalho, em Portugal e fora (25 nacionalidades), e uma terceira amostra de funcionários atuais do BNP Paribas em Portugal, sobre o futuro do trabalho. Os dados foram recolhidos através de questionários, entrevistas e focus groups realizados nos meses de março e abril deste ano.
No que diz respeito ao modelo de trabalho híbrido, tanto estudantes como funcionários das empresas portuguesas e internacionais não esperam deslocar-se ao escritório para desenvolver as atividades que podem fazer a partir de casa. A maioria dos participantes afirmou que a tomada de decisões individuais e o desenvolvimento de relatórios são tarefas que não justificam uma ida ao escritório.
Além disto, quanto ao ambiente de trabalho, os estudantes optam por um modelo de escritório partilhado, com três a cinco pessoas (45%), ou por um modelo open space.
Segundo Filipa Castanheira, professora responsável por supervisionar o estudo, “este projeto revela de forma muito consistente, e através de diferentes fontes de informação, que as expectativas face aos contextos de trabalho estão em clara transformação. Já vínhamos a observar, antes da pandemia, um desejo de um formato de trabalho mais flexível e promotor de maior equilíbrio vida-trabalho, mas agora no regresso após os sucessivos confinamentos e no seguimento da aceleração da transformação digital, os trabalhadores demonstraram que é possível fazer com qualidade e concentração determinadas tarefas a partir de casa.”
«Há uma procura explícita por organizações que proporcionem relações de trabalho que permitam beneficiar desta flexibilidade e uma preferência por equipas com desenhos de trabalho presenciais mais “colaborativos”». Há notoriamente um desagrado pela sensação de «vir para o escritório fazer o que se poderia fazer em casa” e, por isso, o grande desafio das organizações no “futuro do trabalho” não parece tanto ser o “fun das piscinas de bolas e dos cestos de fruta”, mas sim a formação das lideranças e a organização dos espaços físicos de trabalho, proporcionando locais para descontrair e socializar, para debate e resolução de problemas, para reuniões de equipas, apostando na diferenciação do que é trabalho individual e que pode ser feito remotamente do que é trabalho colaborativo que pode beneficiar da presença física das equipas.», concluiu.
Valores são uma preocupação fulcral para os jovens
O estudo revelou ainda que os estudantes são fortemente influenciados pelos valores corporativos das empresas na altura de enviarem candidaturas ou decidirem entre ofertas de trabalho. A maioria dos estudantes internacionais revelou, no entanto, ter pouco conhecimento sobre organizações, em Portugal, que divulguem os valores que defendem de forma clara, o que poderá constituir um motivo de afastamento de potenciais colaboradores internacionais.
Verificou-se também que, de entre os estudantes internacionais que participaram no estudo, apenas um em cada três está a considerar trabalhar em Portugal depois de terminar a sua licenciatura. No entanto, quando confrontados com um cenário que incluía a possibilidade de trabalhar em Portugal numa empresa cujos valores corporativos são semelhantes aos do BNP Paribas (ainda que o nome da empresa não fosse referido), essa percentagem sobe para dois em cada três.
Por último, a investigação concluiu que as redes sociais corporativas podem contribuir para o reconhecimento das organizações e dos seus valores. Da análise ao website e redes sociais de 37 empresas portuguesas ou internacionais presentes em Portugal, verificou-se que grande parte das organizações não comunica de forma ativa as suas políticas de trabalho flexível. Entre a minoria que o faz, apenas o mencionam no seu portal de emprego para informar potenciais candidatos que têm um modelo híbrido em funcionamento, sem que o mesmo seja explicado em detalhe.