O ano de 2021 será de uma provável semi-retoma do turismo. A incerteza no processo de vacinação para toda a população, seja quanto à rapidez, eficácia para todas as novas variantes ou durabilidade do seu efeito imunológico, são fatores que nos colocam ainda em alerta e limitam a confiança nas viagens. Contudo, existe uma grande ansiedade por voltar a viajar e uma elevada procura nos canais digitais pelo melhor local para escapar neste período de transição.
A

construção de cenários de procura é mais complexa sem considerar o histórico e é necessário refletir sobre os fatores que poderão dar, a curto prazo, mais confiança aos futuros turistas. A prioridade será a segurança sanitária, não apenas ao nível do índice de infetados e vacinados, mas também dos cuidados de higiene nos aeroportos, aviões, alojamento e atrações turísticas, e capacidade de resposta das entidades de saúde de cada região. O cartão europeu de saúde poderá ser um bom veículo, mas contará mais a qualidade e a atenção ao paciente turista. Por experiência própria de viajante, posso dar o exemplo que o serviço de saúde ao turista numa pequena localidade algures na Islândia pode ser melhor do que numa estância balnear na Grécia. Pelo que é cada vez mais crucial divulgar de forma simples e direta ao turista quais as estruturas e serviços de saúde existentes e preparadas para os receber, numa coordenação entre o privado e o público.

Todas estas dúvidas vão trazer uma retoma mais lenta e desigual conforme o posicionamento no mercado. O alojamento turístico com unidades individuais, mais pequeno e num contexto natureza, posicionado e dirigido aos segmentos mais jovens e de famílias, terá eventualmente uma recuperação mais rápida, e o mais tradicional, de cidade, de grande dimensão e dependente de grandes grupos de lazer e MICE, talvez uma retoma mais lenta. A existência de espaços ao ar livre será considerada uma vantagem e resultará numa primeira escolha.

São muitas as previsões que agora surgem de consultoras e instituições. O CEO da MMGY Global, que no seu artigo de Dezembro de 2020 “ Travel in 2021 will be better and worse than you think” faz uma previsão bastante otimista e muito completa quanto ao comportamento do consumidor, mas alerta que os turistas têm também, cada vez mais, uma atitude ideológica: 32% dos viajantes americanos consideram as práticas sociais e ambientais como fator importante na sua escolha de viagem.

Para além do desafio de construir cenários de previsões do comportamento do mercado e alinhar as respetivas ações nas vendas e na comunicação digital, estamos também perante uma insurreição tecnológica que começa a revolucionar as operações.

Durante a pandemia e consequente crise económica tornou-se necessário rever processos, identificar ao pormenor todos os custos inerentes e refletir sobre novas formas de eficiência na utilização das matérias-primas, incluindo epis e produtividade dos recursos humanos. O distanciamento social e a necessidade de cumprir com todas as regras de higiene e segurança motivaram o investimento na digitização dos processos operacionais e de relação com o cliente (digitização e não digitalização porque ainda não estamos a digitalizar uma dormida e uma experiência no restaurante, ao contrário de um evento e uma reunião). Um efeito positivo desta imposição digital é de já não ser necessário “educar” o cliente e o colaborador para a necessidade de usarem estas ferramentas tecnológicas.

No entanto, é crucial reter que a tecnologia é apenas um meio, pelo que se deve medir o retorno deste investimento digital no benefício e valor que trará para o cliente e na consequente performance na sustentabilidade económica, social e ambiental do negócio.

A questão que se coloca é sobre qual será o embate que esta introdução tecnológica terá nas funções e tarefas das equipas dos alojamentos turísticos. Será eventualmente relevante equacionar e preparar as equipas para as duas hipóteses, a de uma substituição entre homem e máquina, e a de uma transformação da função. Se procurarmos uma alteração das funções das equipas, surge a questão sobre qual o novo perfil pretendido e sobre como se vai formar e mobilizar internamente os atuais colaboradores para estas introduções do digital no dia-a-dia: seja na comunicação digital com os clientes via chat, na definição de novas práticas de upselling e crosseling no digital, ou na gestão e atualização do conteúdo digital focado nas necessidades de cada cliente in-house.

Por fim, temos o grande desafio semelhante às das restantes indústrias: Como potenciar os nossos e os outros dados disponíveis digitalmente em relação ao perfil e comportamento dos nossos atuais e potenciais clientes? Como transformar esses dados em informação simples em tempo real, que seja fácil e rapidamente utilizada pelas equipas das operações na relação com o cliente? E, de repente, o que se pode esperar do 5G que está a caminho?

Este contexto exigente e de incerteza é um momento crucial para refletir, delinear e começar a preparar a implementação de um plano estratégico futuro que potencie as novas ferramentas e metodologias digitais disponíveis. É essencial compreender a importância dos dados e da informação para a tomada de decisão, e estruturar as organizações para a cultura da inovação porque se está num período de semi-retoma a curto prazo com elevada expetativa para uma retoma completa a médio prazo.

Pessoalmente, estou ansiosa por regressar a viajar neste período de transição e por comemorar esta primeira viagem! Assumo que será também o caso dos nossos clientes!

Artigo publicado originalmente na revista Publituris Hotelaria

Já conhece o nosso programa
Creating Service Excellence?
Publicado em 
21/5/2021
 na área de 
Setorial

Mais artigos de

Setorial

VER TODOS

Join Our Newsletter and Get the Latest
Posts to Your Inbox

No spam ever. Read our Privacy Policy
Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.