ssistimos a uma grande incerteza política com o ressurgimento de movimentos populistas que colocam em perigo as conquistas democráticas do final do século 20. Nisto, observamos uma estranha passividade e em alguns casos negação relativamente ao impacto do Homem no ambiente, por um crescente número de agentes políticos. Verifique-se, por exemplo, a decisão nos EUA de retomar a produção de eletricidade pelo carvão, as permissões para a extração de gás xistoso ou a incapacidade para estabelecer incentivos para o consumo responsável. Talvez mais estranho ainda é serem hoje as empresas a assumir a liderança do processo de sustentabilidade, por oposição aos governos (pelo menos numa parte do mundo ocidental).
As mesmas empresas que há não muito tempo eram acusadas das piores práticas com o estímulo ao consumo irresponsável, poluição descontrolada, desrespeito pelos direitos humanos e desperdício generalizado são hoje quem define em grande parte a agenda da sustentabilidade. Seguramente haverá muito a melhorar (atente-se ao exemplo recente do escândalo das emissões de CO2 por parte da Volkswagen), mas parece que a nossa esperança está mais dependente da vontade dos nossos gestores empresariais do que da vontade política, aparentemente impotente para desenvolver políticas sociais e ambientais eficazes.
O abraçar do conceito de valor partilhado avançado por Michael Porter (isto é, a criação simultânea de valor social e financeiro pelas empresas através do mercado) por grandes multinacionais como a Unilever, Philips ou Nestlé parece autêntico e, embora ainda limitado, poderá marcar a diferença para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável (SDGs). Na verdade, estas empresas incluem, de forma explícita, vários SDGs nos seus objectivos estratégicos.
Ao mesmo tempo, o surgimento de todo um novo setor da economia de impacto é também sinal dos nossos tempos, com uma nova geração de empresários sociais nas mais variadas formas, tentando resolver os mais diversos problemas sociais e ambientais através de lógicas de mercado. A divisão entre setor social e empresarial esbate-se assim cada vez mais, obrigando inclusive a repensar o conceito de capitalismo em alguns dos seus princípios fundamentais.
Neste contexto, há um enorme espaço (e necessidade) de inovação tanto ao nível do desenvolvimento de novos produtos e serviços como nos processos de produção e gestão. É ainda fundamental pensar em novos modelos de negócio que capturem e rentabilizem o valor gerado numa complexa teia de stakeholders. Por exemplo, numa economia circular, a reciclagem e reutilização de materiais e componentes em larga escala só será provavelmente possível se as empresas passarem de um modelo de negócio de venda tradicional para modelos de subscrição e utilização (pay per use) em que a propriedade se mantém no produtor e não passa para o consumidor (incentivando a reinserção dos produtos e materiais na cadeia de valor).
As oportunidades de inovação nesta nova realidade são imensas, mas exigem uma gestão integrada e estratégica da sustentabilidade. Quem não o fizer ficará seguramente para trás. Convido, assim, os empresários a refletirem sobre o papel que têm assumido nesta reinvenção do mercado.
A sustentabilidade já é mainstream na sua empresa?