A 16 de julho de 1962, o geólogo francês, Michel Siffre, entregava o seu relógio de pulso antes de descer à gruta localizada a mais de 100 metros de profundidade nos Alpes Franceses, onde iria permanecer durante 2 meses.
A

única forma de comunicar com a sua equipa à superfície era um telefone que Siffre deveria usar sempre que acordava, quando se alimentava e antes de ir dormir. A sua equipa estava proibida de o contactar para Siffre não ter ideia de que horas eram do lado de fora da gruta. No dia 14 de Setembro, o telefone tocou, pela primeira vez, na gruta. A experiência tinha terminado e estava na hora de subir. Siffre achou que se tratava de uma brincadeira. Pelos seus cálculos, deveria ser 20 de Agosto. Como era possível que a sua perceção do tempo tivesse uma diferença de quase o dobro, para o tempo cronológico?

O cérebro de Siffre não mediu a duração do tempo da mesma forma que o seu relógio de pulso. A prova de que nós humanos, calculamos o tempo de forma bem diferente do que os artefactos que criámos para o medir. Percecionamos o tempo de forma subjetiva. E esta perceção pode ser alterada por uma enorme quantidade de fatores inesperados, como o simples ritmo de uma música. Quando estamos felizes, o tempo acelera, quando estamos tristes, com medo ou aborrecidos, abranda. O tempo voa, quando mergulhamos numa atividade de que gostamos. E parece que pára, quando decidimos focar a nossa atenção no próprio tempo.

A forma como os humanos estruturam este conceito abstrato e invisível é surpreendente. Estruturamos o tempo através de algo bem mais concreto e bem visível. O espaço. Precisamos do espaço para estruturar o tempo. Não conseguimos experimentar um sem o outro. Sentimos o tempo em movimento. Para a mente humana, o espaço ajuda a dar estrutura ao tempo. Usamos metáforas espaciais e de movimento, quando nos referimos ao tempo, para o tentar organizar. Dizemos que o Natal está a chegar e que o tempo voa.

E o que aconteceu nas últimas semanas? Ficámos parados no mesmo espaço. O nosso movimento reduziu-se e, imediatamente, se alterou a nossa noção de tempo. É-nos muito difícil imaginar o fluir do tempo, sem o movimento no espaço.  Por isso, ficámos confusos. Falhámos uma reunião importante, esquecemos um aniversário de alguém especial e muitas vezes tivemos dificuldade em perceber em que dia da semana estávamos. Estamos a experimentar o espaço e o tempo como nunca antes o havíamos experimentado. E cada um de nós o está a experimentar de forma diferente. Percebemos que o tempo não é linear e absoluto e que a forma como o medimos é uma convenção. Um acordo que fizemos entre nós de que um dia deveria ter 24 horas. E o que acontece quando quebramos uma convenção considerada inquebrável? Quem se atreveria a questionar se um dia tem mesmo 24 horas?

O físico e matemático americano, Mitchell Feigenbaum atreveu-se. Quando estava a estudar a Teoria do Caos, quis experimentar a aleatoriedade no seu dia. Decidiu viver segundo um dia de 26 horas. Ao fim de uma semana, as suas rotinas passaram a estar completamente desencontradas das rotinas dos seus colegas do Laboratório Nacional de Los Alamos. Um dos principais responsáveis pela estruturação de uma das teorias científicas com maior impacto na nossa história, fez as ligações mais improváveis quando quebrou uma poderosa convenção acerca do tempo.

Ao fim de poucos dias na escuridão da gruta, Siffre já havia perdido completamente a noção do tempo. De cada vez que ligava com a sua equipa à superfície, fazia um teste que acabou por relevar uma descoberta inesperada. Contava de 1 a 120, à velocidade de um dígito por segundo. Demorou cinco minutos para contar até 120. Tinha experimentado cinco minutos reais como se fossem apenas dois.

Provavelmente a grande aprendizagem que iremos retirar desta experiência única de tempo e de espaço que estamos hoje a viver, é que o tempo não tem tanto a ver com a física ou a termodinâmica dos relógios quânticos, mas tem sim a ver com a forma como os nossos cérebros humanos funcionam. Tempo é esta nossa ligação emocional aos eventos que passam por nós. No final, possivelmente o mistério do tempo diz respeito mais ao que nós somos do que ao universo.

A forma como organizamos a nossa vida é a forma como organizamos o nosso tempo. As nossas relações, as nossas carreiras, os nossos negócios, todos eles estão estruturados com base na nossa perceção do tempo. Descobrimos agora que o tempo não é uma commodity nem uma mercadoria homogénea e esta descoberta pode ter um impacto colossal na nossa vida.

Talvez agora, finalmente consigamos entender a pergunta estranha que a Swatch nos fez há 23 anos, neste velhinho anúncio “How Long is a Swatch minute?”, e que até hoje se encontrava sem resposta.

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Publicado em 
29/5/2020
 na área de 
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