Os governos, as agências intergovernamentais, os investidores e as empresas têm nos últimos anos promovido várias iniciativas com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável em questões ambientais, sociais e de governação das empresas (dimensões designadas de ESG).
Mas o que é que a sociedade civil, cada um de nós como cidadão, pode fazer para contribuir para salvar o nosso planeta? Todos devemos contribuir para resolver os desafios relacionados com a mudança climática, a erradicação da fome e pobreza, o acesso à educação e cuidados de saúde, o consumo sustentável, ou a redução das desigualdades sociais e de género, entre muitos outros.
Está nas nossas mãos resolver estes problemas. Dois estudos recentes mostram que as pessoas estão dispostas a contribuir para o desenvolvimento sustentável – os consumidores pagando um valor adicional para compensar as emissões de CO2 quando compram passagens aéreas e os trabalhadores abdicando de salário para trabalharem em empresas mais sustentáveis.
Um estudo do Bundesbank e Universidade de Chicago avalia quanto os consumidores estão dispostos a pagar para compensar as emissões de gases de efeito de estufa geradas pelas suas decisões de consumo. Em particular, realizaram um questionário aos consumidores na Alemanha para saber quanto estão dispostos a pagar a mais na tarifa aérea (quando compram um bilhete online) para compensar as emissões de CO2 do seu voo continental para Palma de Maiorca ou intercontinental para Nova Iorque.
Estes programas de compensação de emissões de CO2 são bastante comuns entre as companhias de aviação. Por exemplo, a TAP utiliza o dinheiro pago pelos passageiros para apoiar projetos de reflorestação no Brasil – o projeto Ecomapuá que conserva 86.000 hectares de floresta tropical na Amazónia, mais concretamente na ilha de Marajó, situada na foz do rio Amazonas.
A Lufthansa apoia projetos no Quénia a Madagáscar que têm por objetivo reduzir as emissões de CO2 distribuindo a famílias fogareiros eficientes ou que utilizam energia solar em vez de usarem fogueiras a lenha (que também provocam doenças respiratórias), ou ainda projetos de produção de energia renovável (solar e biomassa) na Índia, Indonésia e Brasil.
Os consumidores na Alemanha estão dispostos a pagar 35 euros por voo para compensar as emissões (os custos de compensação são de 14 euros para Maiorca e 84 euros para Nova Iorque). No entanto, se receberem informação sobre os efeitos e formas de mitigação de emissões de CO2 e mudança climática a sua disponibilidade a pagar aumenta em 15 euros, isto é, para 50 euros.
Um aspecto interessante é que esta disponibilidade a pagar é mais alta nas mulheres, nas pessoas de mais idade e maior rendimento, e em especial nas pessoas com ideologia política de esquerda que estão dispostas a pagar mais 32 euros! Estes resultados ilustram também como campanhas de informação sobre como combater a mudança climática podem induzir ação e mudança.
Outros estudos mostram que os consumidores estão dispostos a pagar preços mais altos por bens e serviços mais sustentáveis (em tempos de inflação ou crise como os atuais esta disponibilidade a pagar mais pode desaparecer pois a sustentabilidade torna-se num bem de luxo!).
Um outro estudo das Universidades de Roterdão, Genebra e Estocolmo analisa se os trabalhadores na Suécia estão dispostos a abdicar de salário para trabalharem em empresas com mais preocupações de ESG. Os resultados indicam que os trabalhadores aceitam salários 10% mais baixos quando trabalham em empresas em sectores mais sustentáveis como por exemplo saúde, educação e reciclagem (em vez de empresas em setores menos sustentáveis tais como combustíveis fósseis, químicos e transporte aéreo).
Um aspeto importante é que a comparação de salário é feita entre trabalhadores que são similares em termos de características demográficas, socioeconómicas, competências cognitivas e não cognitivas e tipo de ocupação. Esta redução de salário é ainda mais acentuada no caso de trabalhadores mais qualificados, mais jovens (millennials e geração Z) e tem vindo a aumentar ao longo do tempo.
As empresas mais sustentáveis são ainda capazes de atrair e reter talento mesmo com um salário mais baixo. Estes resultados mostram que as políticas de sustentabilidade das empresas podem ter efeitos benéficos em termos de custos salariais e atração de talento.
Estes estudos mostram que há esperança e que as empresas e as pessoas podem com as suas ações e decisões de consumo e trabalho contribuir para os objetivos de desenvolvimento sustentável. É possível “fazer bem e fazer melhor”!
Este texto trata-se de uma republicação de um artigo de opinião publicado no Jornal de Negócios - leia o original aqui.