Por esta altura, já muitos de nós experimentámos o ChatGPT ou outras ferramentas semelhantes e está claro que estamos na presença de uma tecnologia com enorme potencial. Aqui e ali começam a aparecer casos de quem o esteja a utilizar pontualmente nas suas funções profissionais, seja para ajudar na elaboração de um email, documentos formais, escrever linhas de código informático ou até mesmo idear uma abordagem, produto ou negócio.

O ChatGPT e tantas outras ferramentas que têm vindo a aparecer assentes nos Large Language Models, estes grandes modelos linguísticos de Inteligência Artificial, são isso mesmo: modelos capazes de compreender e fazerem-se compreender em linguagem natural. Dado que uma parte significativa daquilo que as empresas fazem na sua atividade diária é alguma forma de linguagem escrita ou falada, a Inteligência Artificial tem, desta forma, potencial para se vir a imiscuir na maior parte das nossas tarefas.

O ritmo a que isto vai acontecer, não sabemos. De acordo com o Digital Intensity Index (DII) de 2021, apenas 56% das empresas europeias estão no nível mínimo de intensidade digital, que contempla a utilização de pelo menos quatro de 12 tecnologias digitais (como a Inteligência Artificial). Da mesma forma, no que diz respeito à adoção de computação em cloud, apenas 4 em cada 10 empresas na UE usavam esta tecnologia em 2021 (embora esta tecnologia esteja disponível no mercado há vários anos).

É claro que a realidade empresarial é muitas vezes propensa a processos de adoção de tecnologia mais demorados. Se as PMEs têm muitas vezes dificuldade em reunir os recursos necessários para adotar novas tecnologias, as grandes empresas estão assentes em infraestruturas complexas, compostas por diversas plataformas e aplicações, que tornam desafiante a integração de novas soluções. Embora não seja correto assumir que observações passadas irão repetir-se em contextos semelhantes no futuro, é razoável contemplarmos a possibilidade de que estas ferramentas de Inteligência Artificial possam ainda vir a demorar algum tempo até serem plenamente adotadas nas diversas áreas do dia a dia das empresas.

Se assim for, não estará ao virar da esquina a concretização das perspetivas mais apocalípticas em relação ao impacto da IA no mercado de trabalho. Ao invés disso, o que já vemos acontecer, é a poupança de tempo na ordem dos 40% e o aumento da qualidade em cerca de 18% em tarefas assistidas por ChatGPT.

As empresas devem, por isso, desde já, começar a prototipar, a experimentar a utilização destas ferramentas. Podem, para isso, fazer pequenos ensaios, com casos de uso controlados.

Uma boa maneira de começar este processo será, por exemplo, através de soluções incrementais internas: a criação de um chatbot para disponibilização de informações de consulta esporádica – por o processo de faturação a fornecedores, os dados dos veículos financeiros da empresa, etc, por exemplo; ou a utilização de ChatGPT ou de ferramentas mais especializadas para o apoio a market research, que possibilitam a criação de personas que representem o nosso público-alvo. Rever planos de negócios, redigir artigos com SEO optimizado, ou mesmo obter insights mais específicos sobre finanças. Não faltam ferramentas e guias para tirar o maior partido das mesmas.

Estas soluções incrementais, a partir de ferramentas já existentes, circunscritas a colaboradores ou equipas específicas, permitirão perceber que casos de uso têm efetivamente valor para o negócio. Em paralelo, as empresas deverão pensar que soluções disruptivas podem ser criadas com esta tecnologia. Estes dois caminhos paralelos alimentam-se reciprocamente, ajudando a criar uma cultura de experimentação e exploração conjunta.

Há, no entanto, dois aspetos que têm que ser observados: estas iniciativas devem ser promovidas com a supervisão do IT, de maneira a não se criarem pequenos nichos de shadow IT, que podem ter consequências para todo o parque aplicacional da organização. E, acima de tudo, os colaboradores devem ser formados e sensibilizados para a utilização destas ferramentas, de maneira a conseguirem discernir o tipo de informação adequada a trabalhar nestas plataformas. Afinal, segundo um estudo recente da empresa de segurança LayerX, mais de 15% dos colaboradores colocam informação interna no ChatGPT, da qual mais de 20% é confidencial ou sensível.

Embora o acesso a estas ferramentas seja, hoje, mais fácil que nunca, é também muito fácil ficar à margem: de acordo com um estudo da Pew Research publicado em maio deste ano, 58% dos americanos dizem-se familiarizados com o que é o ChatGPT. No entanto, apenas 14% admitem já o ter experimentado.

As empresas têm que fazer um investimento deliberado na experimentação destas tecnologias. Sem experimentar, será difícil entender o verdadeiro potencial ou implicações que estas apresentam. Se não aproveitarem esse potencial de competitividade, algum concorrente o fará.

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Publicado em 
27/7/2023
 na área de 
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