Chegámos à altura do ano em que, regra geral, as pessoas só pensam nas férias. Esta antecipação vem normalmente carregada de expetativas positivas e, como tal, traz-nos bem-estar e deixa-nos de sorriso nos lábios – muitas vezes até nos focamos mais no trabalho e conseguimos ir buscar energia extra para garantir que, quando chegar a altura de ir de férias, deixamos tudo tratado e arrumado. O que possivelmente não sabia é que planear e antecipar as férias traz mais bem-estar do que as férias propriamente ditas.
U

m estudo conduzido por Jeroen Nawijn da Erasmus University Rotterdam demonstrou este efeito numa amostra de cerca de 1500 holandeses. Neste estudo, a sua equipa comparou pessoas que iriam de férias com outras que não o iriam fazer e verificou duas coisas interessantes:

1.      as pessoas que iriam de férias tinham maior índice de felicidade antes de ir de férias;

2.      após as férias não havia grandes diferenças no índice de felicidade dos dois grupos - a não ser que as férias tivessem sido mesmo, mesmo, mesmo relaxantes (ou seja, sem qualquer fonte de stress).

Ou seja, parece que fazer planos e pensar naquela maravilhosa chaise-longue à beira do mar e no livro que a acompanha, na caminhada na montanha apenas a ouvir a natureza, ou em qualquer outro cenário idílico de férias é melhor do estar a usufruir de facto desses momentos.

É relativamente fácil compreender este efeito de expectativas versus realidade. As pequenas vicissitudes da vida real, tais como uma birra inesperada das crianças, o vizinho que grelha sardinhas todas as noites e cujo fumo vem para a nossa porta, ou a família que coloca as toalhas na praia mesmo em cima das nossas são os elementos que muitas vezes trazem stress para a zona que se pretendia stress-free, acabando por tornar as férias em algo que se descreve da seguinte forma: "não tivesse sido o ____, as férias teriam sido perfeitas". E assim se desvanece o efeito das férias ao mesmo tempo que mergulhamos no trabalho que pacientemente aguardou por nós.

No entanto, no período que antecede as férias, o limite para a nossa imaginação é o céu. A chaise-longue está numa praia semi-deserta onde só se ouve o mar; não há filas para entrar no parque de atrações ou no restaurante; e toda a gente sabe exatamente a distância interpessoal que deve manter dos outros (que, caso tenha dúvidas, em Portugal é de um pouco mais de um metro em relação a estranhos, de acordo com um estudo publicado em 2017 no Journal of Cross-Cultural Psychology).

De um ponto de vista individual, as férias parecem ter um papel que passa em parte por ser algo que desejamos e com o qual sonhamos e cuja duração (férias grandes versus várias pausas ao longo do ano) parece ter relativamente pouco impacto na nossa felicidade.

Portanto, aproveite agora que ainda não foi de férias para sonhar e assim tirar ainda mais proveito dessas mesmas férias. Caso já tenha usufruído das suas férias, a solução é simples: comece a sonhar com as próximas férias quanto antes.

Artigo publicado originalmente na revista Forbes Portugal

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Publicado em 
14/8/2018
 na área de 
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