Um estudo da Boston Consulting Group (BCG), Google e Nova SBE, o Digital Acceleration Index (DAI), divulgado em julho deste ano, concluiu que, de todas as verbas que foram disponibilizadas em instrumentos de financiamento para empresas portuguesas em 2020, para auxiliar neste processo de transformação digital, 51% ficou por atribuir. Ou seja, 5 em cada 10 euros ficaram por gastar, revelando uma grande dificuldade de acesso a instrumentos de financiamento, quer por desconhecimento dos mesmos, quer por falta de experiência nos processos, por vezes complexos, de candidatura.
Por outro lado, este estudo concluiu também que, das 1047 empresas entrevistadas, 33% já tinham em marcha iniciativas de capacitação digital das suas equipas. No entanto, as pequenas empresas foram aquelas que lançaram um menor número (28%). A que é que isto se deve? À primeira vista, a um problema de liquidez. As organizações sentem que não têm disponibilidade para fazer o investimento necessário em ferramentas tecnológicas que permitam a melhoria dos seus negócios.
Contudo, se olharmos mais profundamente para a problemática, encontramos ainda outras respostas: a dificuldade em atrair e reter quadros com as qualificações necessárias, que participem e liderem nos processos de transformação digital, faz com que, muitas vezes, as empresas não sejam capazes criar e implementar as iniciativas de transformação necessárias. A incipiência de quadros nas áreas da inovação e transformação leva ainda a uma falta de abordagem global e de espírito crítico sobre os processos que se pretende digitalizar. Citando Daniel Traça:
“A mudança digital não é fazer as mesmas coisas usando tecnologia”
Para mudar este paradigma nas PMEs, é necessário apostar no desenvolvimento de talento de áreas tecnológicas e de liderança para o digital, o que passa, sem dúvida, pela formação.
A formação é um instrumento poderoso de capacitação dos recursos humanos de uma empresa: promove a criação de uma autêntica literacia digital, que serve uma cultura de constante adaptação da tecnologia aos novos desafios que as empresas sentem no mercado global e promove as competências necessárias para a liderança de processos de transformação digital.
Nos tempos que vivemos, nenhuma organização pode ficar à margem desta onda global de transformação. Com a crescente exigência por parte dos clientes e um mercado cada vez mais competitivo, a utilização de novas tecnologias pode ser um fator chave para a diferenciação e para uma boa performance do negócio. A título de exemplo, temos hoje plataformas de análise de dados, serviços de onboarding e soluções de pagamentos que podem favorecer a penetração de mercado, a satisfação e a retenção de cliente. A nossa realidade está em constante mutação, graças ao potencial combinatório de tantas tecnologias que temos hoje à disposição, e a tantas outras que têm vindo a ser criadas, numa curva de evolução exponencial.
Acompanhar a realidade já não é apenas responsabilidade das camadas de gestão de topo: é essencial que todos os colaboradores atuem como agentes de transformação digital. E para isso é necessário expô-los a diferentes casos de uso e exemplos, criando assim uma “cultura visual” de soluções tecnológicas que servirá como facilitadora para a identificação das ferramentas certas para a realidade de cada organização e para as estratégias mais adequadas para as implementar.
É por isso que a educação é um investimento fundamental e urgente, com frutos a curto-médio prazo. A sala de aula é um espaço privilegiado para a promoção do debate de ideias e da partilha de experiências, quer com formadores especialistas como com pares de outras organizações, capacitando cada participante para melhor liderar os processos de transformação digital nas suas organizações, o que, por sua vez, trará retorno económico, resolvendo os dois maiores entraves à transição digital. Esta é a chave para desencadear a transformação nas pequenas e médias empresas.