Enquanto em 2021 o foco das empresas estava principalmente virado para as vendas - tendo em conta o impacto da pandemia – e para a transformação digital, nesta segunda edição assiste-se a uma inversão do paradigma.
Num inquérito realizado a um total de 853 micro, pequenas e médias empresas com operação em Portugal, a maioria (59,9%) elegeu as pessoas como o principal desafio para o ano de 2022, um aumento de 32,5% face a 2021, substituindo as vendas, que passaram do topo dos desafios para serem consideradas como o terceiro maior desafio das empresas este ano (de 65% em 2021 para 47,7% em 2022). Além das pessoas, também a sustentabilidade assumiu um papel primordial nos desafios para este ano (52%).
Considerando o último trimestre de 2021, em relação ao período homólogo de 2020, a percentagem de empresas que reduziu o seu quadro de pessoal caiu de 19,6% para 15,1%, enquanto a percentagem de empresas que aumentou o seu número de colaboradores subiu de 16,3% para 20,5%. A percentagem de empresas que manteve os mesmos trabalhadores, permaneceu estável, passando dos 62,4% para os 60,5%.
Em relação a 2022, 48,8% das empresas espera poder aumentar o número de colaboradores, principalmente nas áreas de operações (45,4%), vendas (18,7%) e recursos humanos (8,4%).
João Silveira Lobo, professor assistente na Nova SBE Executive Education, sublinha: “A principal nota que resulta da leitura dos dados é um sentimento de otimismo por parte dos respondentes! Não um otimismo desenfreado, sim um otimismo contido, mas, ainda assim, um olhar sobre o futuro próximo mais auspicioso do que o que caracterizou a edição anterior!”
No que respeita às finanças, 59,7% das empresas inquiridas recorreram a apoios financeiros, contudo, as empresas deixam de sentir tanta necessidade de recorrer ao layoff simplificado, e recorrem agora a apoios à contratação e manutenção de postos de trabalho. Em 2021, 21% das empresas inquiridas recorreram ao layoff simplificado, menos 11,5% do que em 2020. Em sentido contrário, o recurso aos apoios à contratação subiu em 2021, de 10,8% para 16%. O recurso a moratórias de créditos manteve-se constante e representou 22% das empresas inquiridas, bem como os financiamentos bancários (20,8%).
Tendo por base o último trimestre de 2021, 29,3% das empresas receberam de fornecedores a pronto e 30,9% destas também pagaram a pronto; 28.3% das empresas recebe a 30 dias e 41,5% paga nesta modalidade, enquanto 25,3% (menos 9,8% face ao período homólogo de 2020) recebe a 60 dias e 19,8% paga a 60 dias, uma diminuição de 6,6% em relação ao mesmo período de 2020.
No que toca às vendas, 64% das empresas viram a sua faturação aumentar em 2021 face a 2020. Dos inquiridos, 31% registam um aumento de vendas entre 1 e 20%, 17,5% referem que as vendas se mantiveram iguais entre 2020 e 2021, enquanto 18,3% das empresas viram as suas vendas cair entre 2020 e 2021.
Para 2022, 48% das empresas espera superar as vendas de 2021 e 46,6% espera regressar a níveis de faturação próximos dos de 2019, antes da pandemia.
“As PME estavam confiantes numa subida de vendas (cerca de 50% consideravam chegar ao final do corrente ano aos níveis de pré-pandemia), sentindo uma menor necessidade de apoios financeiros e dirigindo as suas preocupações para a necessidade de contratar e reter colaboradores (fundamentalmente na área de operações), de tornar os seus negócios mais resilientes face aos desafios de sustentabilidade ambiental e com cerca de 60% das empresas a mostrar que a transformação digital passou a ser uma ferramenta relevante para potenciar os negócios”, acrescenta João Silveira Lobo.
O investimento em marketing mantém-se reduzido, com 57% das empresas a prever um investimento de apenas 1% do seu orçamento nesta área. Apenas 14,8% das empresas prevê investir mais de 10% do seu orçamento em campanhas de marketing em 2022.
Em 2021, 55% das empresas inquiridas investiram em serviços de marketing digital, percentagem que sobe para 75% quando questionadas sobre as previsões de investimento para este ano. As campanhas em redes sociais (68,6%) e em trade marketing em canal de e-commerce (42,1%) são as principais apostas para este ano.
No que toca às campanhas offline, em 2021, 36% das empresas investiram nesta área, prevendo-se uma quebra para cerca de 29% dos inquiridos este ano, sendo o marketing promocional (64,4%) e o telemarketing (58,9%) as principais apostas das empresas para 2022.
Quanto à transformação digital, verifica-se um aumento do investimento em ferramentas para acompanhar a transformação digital para 31,8% dos inquiridos, sendo os investimentos em software (29,6%), em plataformas digitais (17,5%) e nos websites (16,9%) e e-commerce (16,4%) os mais expressivos. As principais razões para este investimento são a relevância para o negócio (13,3%), a facilidade em comunicar (12,2%) e a geração de leads (10,2%). Em sentido contrário, 40% das empresas inquiridas não utilizam ferramentas digitais, sendo as principais razões apontadas o facto de não serem relevantes para o negócio (18,3%), o valor do investimento (13,8%) e o facto de não serem utilizadas (11,7%).
Entre os inquiridos, aumenta em 2,8%, para 26,6%, a percentagem de empresas que vende em e-commerce.
No que respeita à sustentabilidade, 41,5% das empresas refere ter processos de qualidade e certificações que contribuam para a sustentabilidade do negócio, sendo as principais a norma ISO 9001 (7,2%), de gestão de qualidade, o selo de PME Líder do IAPMEI (4,2%) e o sistema HACCP, de análises de perigos e controlo de pontos críticos (3,2%). Além disso, 47,7% das empresas refere ter planos sobre impactos ambientais e afirmam sentir-se pressionadas por problemas ambientais como a seca (25,4%), as alterações climáticas (20,9%) e pela vontade de terem uma menor pegada ambiental (14,9%).
Tendo em conta a atual situação de conflito vivida na Ucrânia, João Silveira Lobo lembra, contudo: “Se os anos de 2020 e 2021 foram exigentes porque estivemos perante um choque da procura, o que nos aparece hoje pela frente será um choque da oferta pelo aumento dos custos de matérias-primas e da energia, pelas dificuldades logísticas, pelo aumento do custo do dinheiro e, por isso, por uma inflação no lado da oferta que não será passível de ser transferida na sua totalidade para os clientes!”.
“A volatilidade e incerteza que, no dia em que escrevo este comentário, rodeiam o mundo empresarial são de forma a sugerir que os riscos e as preocupações manifestadas nas respostas ao Barómetro PME 2022 devem ser ampliadas, o otimismo deve ser mitigado e os empresários devem preparar-se para um ano difícil que porá à prova novamente as suas capacidades de gerirem os impactos do lado dos custos bem como os seus planos de investimento”, conclui.