s decorações, festas e ambiente mais relaxado são as notas dominantes, acompanhadas pela maratona de compras que igualmente caracteriza este período. Mas se uns veem a época natalícia como um momento de reflexão pessoal, outros tantos veem-na como um período frívolo onde o consumismo impera. Independentemente da sua postura individual em relação ao Natal, esta época pode e deve ser mais do que apenas uma época festiva, incluindo no que diz respeito à gestão. Curiosamente, e tendo em conta a sua relevância no mundo ocidental, há ainda relativamente pouca investigação acerca do tema para além das suas implicações no consumo e estratégias de marketing.
Há alguns anos, Philip Hancock e Alf Rehn organizaram um número especial da revista Organization precisamente para abordar este lado menos explorado do Natal. Salientam estes autores que o Natal pode ter um papel para as empresas que vai muito além da geração direta de valor económico; pode aproximar as empresas dos seus clientes, promover inovação e contribuir para o aumento da identificação com o trabalho. Ou seja, é uma boa altura para refletir sobre a visão, estratégia e práticas da empresa e o respetivo impacto nos atores internos e externos. O Natal na empresa deve, por isso, incluir uma reflexão mais aprofundada acerca de “porque é que fazemos o que fazemos” e “o que é podemos mudar para melhor” de forma a promover simultaneamente o significado do trabalho e a identificação com a empresa, ao mesmo tempo que ajuda a preparar e promover mudança.
Se olharmos para o seu impacto nos diferentes atores, verificamos que a consistência ao longo do tempo tem aqui um papel fundamental. Isto porque ações como a realização de uma festa de Natal ou distribuição de pequenas lembranças tanto pode ser vista através de uma lente positiva como negativa: positiva caso seja "apenas" mais uma demonstração de que a empresa valoriza e se preocupa com os seus colaboradores; negativa caso seja a única demonstração dos mesmos princípios, o que muitas vezes cria nos colaboradores a sensação de que é apenas um pró-forma ou um artefacto para que as pessoas esqueçam, mesmo que durante um breve período de tempo, a realidade do dia a dia da empresa.
O que acaba por ser mais importante para o processo de interpretação destas ações é garantir que a sua empresa não se transforma em algo completamente diferente (e regra geral bem melhor) durante o Natal, mas sim que aproveita para salientar e reiterar aqueles que são os princípios fundamentais que a regem ao longo do ano, pois, tal como o poeta Ary dos Santos declamava: “Natal […] é quando um homem quiser”.
Artigo publicado originalmente na revista Forbes Portugal