A geração de dados e o seu armazenamento tornaram-se indispensáveis nas operações de empresas, organizações e indivíduos. No entanto, uma parte significativa destes dados não volta a ser utilizada ou é esquecida, resultando num fenómeno conhecido por “dark data”. Este artigo resume as consequências ambientais da “dark data” e sublinha a necessidade urgente da descarbonização digital.
O peso ambiental escondido da “dark data”
Estudos mostram que uns impressionantes 54% dos dados digitais gerados por organizações são recolhidos, processados e armazenados para serem utilizados apenas uma vez, sem que sejam novamente usados. Estes incluem tudo, desde fotos redundantes armazenadas na cloud até folhas de cálculo “criadas-e-nunca-mais-revisitadas”, bem como dados infindáveis de sensores IoT que não têm qualquer propósito futuro. Ou dados de uma universidade que, todos os anos, leciona centenas de módulos e tem milhares de trabalhos pedidos aos alunos durante os cursos, que precisam de ser guardados, mas que podem nunca mais ser acedidos. Mesmo os dados que permanecem inativos ocupam espaço nos servidores, consumindo quantidades substanciais de eletricidade. Estes custos escondidos de energia contribuem para a pegada carbónica das organizações, representando desafios ambientais significativos.
O caminho para o neutralidade carbónica e a pegada digital negligenciada
À medida que a sociedade se concentra na redução da pegada de carbono em várias indústrias, como a automóvel, a aviação ou a energia, o impacto ambiental do processamento de dados digitais passa muitas vezes despercebido. Surpreendentemente, estima-se que a digitalização seja responsável por cerca de 4% das emissões globais de gases com efeito de estufa em 2020. A produção de dados digitais continua a aumentar, com uma quantidade prevista de 97 zettabytes só este ano, e uma projeção de duplicação para 181 zettabytes até 2025 (1ZB = 1,000,000,000,000 gigabytes). Ainda assim, a redução da pegada carbónica digital continua a não ser abordada nas discussões sobre políticas e iniciativas de sustentabilidade.
Ao contrário do entendimento comum, os dados digitais e o processo de digitalização não são intrinsecamente neutros no que diz respeito à pegada carbónica e cabe-nos a todos a responsabilidade de reduzir a pegada associada aos dados. Introduzo o conceito de “descarbonização digital” – esta abordagem tenta mitigar o impacto ambiental que decorre do armazenamento de dados digitais, ao enfatizar a importância de implementar processos digitais sustentáveis. Enquanto a digitalização não representar um desafio ambiental, a forma como as organizações e os indivíduos gerem e interagem com os dados digitais em tarefas diárias vai continuar a carregar consequências ambientais significativas.
Revelando a magnitude: dark data vs. indústria da aviação
A escala absoluta do impacto ambiental da dark data torna-se evidente quando comparamos as pegadas carbónicas dos data centers e da indústria da aviação. Os imensos data centers onde são armazenados os dados na cloud são já responsáveis por 2,5% de todas as emissões de dióxido de carbono, ultrapassando a pegada ambiental do sector da aviação, que representa cerca de 2,1% do total. Esta comparação surpreendente sublinha a urgência em endereçar a eficiência das atuais práticas digitais e incitar as organizações a considerarem estratégias de reutilização, processamento e armazenamento de dados de uma forma mais eficaz. Por exemplo, uma organização orientada para os dados, com cem colaboradores, pode gerar, aproximadamente, 3 gigabytes de “dark data” todos os dias, o equivalente à pegada carbónica de seis voos a partir de Londres até Nova Iorque, se mantidos durante um ano. Extrapolando estes dados para uma escala mundial, as organizações produzem diariamente uns impressionantes 1,300,000,000 gigabytes de “dark data” – o equivalente a três milhões de voos de Londres até Nova Iorque!!!
Tomar medidas: A descarbonização digital na prática
Para compreender melhor o custo carbónico associado aos dados, as organizações devem calcular a pegada de carbono dos dados que produzem para se tornarem mais conscientes dos seus impactos ambientais e desenvolverem estratégias para os reduzir..
À medida que o mundo continua a digitalizar-se a um ritmo sem precedentes, temos de reconhecer as imensas consequências ambientais associadas à “dark data” e a necessidade da descarbonização digital. Ao reavaliar as nossas práticas digitais, promover a reutilização de dados e implementar estratégias sustentáveis de gestão de dados, podemos mitigar os custos energéticos escondidos da “dark data” e trabalhar para atingir a neutralidade carbónica. Desde utilizadores a decidirem que fotos e vídeos devem manter até a organizações que redefinam as suas práticas de coleção e armazenamento de dados, todos temos um papel a desempenhar para minimizar a pegada carbónica digital. Juntos podemos criar um futuro digital mais sustentável.