Quando me apresento como especialista em gestão de empresas familiares, deparo-me por vezes com comentários que apontam a falta de profissionalismo e os descendentes impreparados, ou exemplos, mais ou menos recentes, de grupos económicos de cariz familiar que implodiram.

Não vou negar que a combinação de família e negócios resulta numa mistura potente. Mas aquilo que acontece com essa mistura está nas mãos de cada família empresária. Costumo fazer a comparação com a Força do universo Star Wars, que também tem o lado negro (pense Darth Vader) e o lado da luz (os cavaleiros Jedi).

Ao contrário dos detratores, prefiro olhar para as vantagens competitivas de que as empresas familiares podem dispor, precisamente por serem familiares. A essa fonte de vantagens competitivas, que são valiosas, raras e inimitáveis, dá-se o nome de familiness[1].

Como nutrir o familiness? Quer o leitor seja membro da família quer não, se for gestor de uma empresa familiar não ficará mal-aconselhado ao levar em conta estas recomendações:

1. A estrutura é sua amiga

Levar a família a organizar-se de maneira mais formal, com órgãos e processos de governance, pode parecer um pouco estranho no início. Leva sempre um ano ou dois até que a família se habitue a interagir dessa forma. Mas o valor da governance torna-se evidente quando vemos como as famílias acabam por beneficiar dessas estruturas e desses processos. Discutir assuntos sensíveis e lidar com emocionalidades complexas torna-se mais fácil e produtivo.

2. Profissionalizar não significa tirar a família do negócio

As empresas familiares mais bem-sucedidas são as que combinam na sua gestão uma combinação entre membros da família e gestores não-familiares. Uns e outros têm de ser, antes de mais, profissionais competentes. Em cima disso, os não-familiares podem trazer competências em áreas que a família não domina internamente e são muitas vezes um benchmark e um catalisador para determinadas práticas de gestão (por exemplo processos de avaliação de desempenho). Os familiares podem acrescentar valências formidáveis, por exemplo um “amor à camisola” e uma flexibilidade inigualáveis, para além de serem transmissores dos valores da família para dentro (e fora) da organização.

3. Processos justos são mais importantes do que resultados justos

Nas empresas familiares a justiça é crucial ou, se preferir, a percepção de injustiça pode ser corrosiva e ditar o insucesso da organização. O antídoto passa por investir nos processos e na justiça processual. As pessoas vivem melhor com resultados que lhes são menos favoráveis quando sentem que o processo que levou a uma determinada decisão teve os ingredientes certos que o tornaram justo.

4. Vale a pena investir tempo e dinheiro na família

Qualquer gestor entende a necessidade de investir no negócio, de alocar recursos no presente para colher rendimento no futuro e assim criar valor. O que já não é tão óbvio, mas continua a fazer todo o sentido, é aplicar o conceito do investimento à família empresária - os membros da família, quer sejam gestores do negócio familiar, quer sejam “simples” acionistas ou futuros acionistas, serão tanto mais valiosos para a empresa familiar quanto forem educados e desenvolvidos e os seus talentos acarinhados.

A familiness está ao alcance de qualquer família empresária, mas de facto nem todas elas são capazes de aproveitar o potencial. Seja uma família Skywalker, use o lado bom da Força!

 

[1] Habbershon, T. G., & Williams, M. L. (1999). A resource‐based framework for assessing the strategic advantages of family firms. Family business review, 12(1), 1-25.

Já conhece o nosso programa
Gestão de Empresas Familiares?
Publicado em 
19/4/2022
 na área de 
Gestão & Estratégia

Mais artigos de

Gestão & Estratégia

VER TODOS

Join Our Newsletter and Get the Latest
Posts to Your Inbox

No spam ever. Read our Privacy Policy
Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.