Sabe o que são fundos ESG? Esta sigla em inglês significa “environmental, social, and governance” [ambiental, social e governança] e estes investimentos correspondem a um novo paradigma do mercado de capitais através do qual dados e políticas ESG são integrados aos investimentos, com o intuito de melhorar a gestão de riscos e a performance financeira. O que começou por ser um nicho, corresponde atualmente a cerca de metade do volume de ativos sob gestão (AuM) no mercado financeiro, ou cerca de US$45 biliões.

No entanto, recentemente, as práticas ESG têm colecionado críticos, o que forçou uma reflexão sobre as imperfeições do setor de serviços financeiros. Isto porque o aumento global dos investimentos em ESG não tem sido acompanhado pelo estabelecimento das infraestruturas para apoiá-los.

No entanto, muitas das críticas ignoram as iniciativas emergentes para abordar as suas falhas. Na verdade, uma segunda onda de sustentabilidade corporativa e finanças sustentáveis – ESG 2.0 – está a começar a ganhar força.

“O que é um fundo ESG? Honestamente, ninguém sabe – e isso leva ao greenwashing e à impunidade. Mas os críticos dos ESG esquecem-se de mencionar que os reguladores estão a transitar para guias de melhores práticas ou padrões baseados na divulgação e adoção de critérios sedimentados em regras para determinar o que é um fundo ESG”, afirma Rodrigo Tavares, professor na Nova School of Business & Economics (Nova SBE) e responsável pela iniciativa para classificar este novo paradigma do mercado de capitais, encetado pelo governo do Reino Unido, a cidade de Londres e a British Standards Institution (BSI), num artigo publicado na Fortune.

O professor explicou que, em dezembro de 2021, a organização brasileira ANBIMA foi a primeira no mundo a estabelecer pré-requisitos para que os negócios possam rotular os seus fundos ou produtos como “sustentáveis”. O mesmo já está em curso no Reino Unido. Quando os padrões de fundos ESG forem devidamente adotados e quando houver um nível mais profundo de conhecimento sobre o tema, os reguladores poderão finalmente combater o greenwashing.

“À medida que vamos avançando, os ESG estão gradualmente a ser divididos em dois: por um lado, os produtos financeiros que integram as políticas ESG, dados e práticas, com o objetivo de identificar novos riscos financeiros e desbloquear oportunidades de criação de valor; por outro lado, fundos que gerem, intencionalmente, impacto social e ambiental, e, por isso, estão alinhados com os valores morais.
Enquanto o primeiro tipo pode potencialmente investir em companhias de petróleo ou gás, o segundo é apenas direcionado para o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, acrescenta Rodrigo Tavares.

Contudo, há um problema de data associada a estes fundos. Há mais de 100 agências de rating a operar de forma desregulada ou com falta de transparência.

“No entanto, estamos a caminhar rapidamente para a consolidação do mercado, com várias empresas maiores a adquirirem as menores. Em breve, a S&P, Moody's e Fitch dominarão o mercado e incorporarão dados que atualmente estão nas mãos de agências de classificação de risco ESG nas suas próprias classificações de crédito. Ao mesmo tempo, apenas um punhado de agências independentes que medem o impacto dos produtos e serviços das empresas sobreviverão. Para ambos, o foco nas questões ESG mais relevantes de acordo com o setor, a geografia ou o tamanho da empresa é fundamental. Os académicos também estão a trabalhar lado a lado com a indústria para aperfeiçoar as estruturas existentes”.

“Finalmente, temos de estandardizar os relatórios de sustentabilidade organizacionais”, conclui, referindo que, muitas vezes, estes documentos podem ter em conta 30 métricas diferentes e que esta multiplicidade adultera a compatibilidade entre empresas.

Contudo, este ponto pode deixar de ser uma inevitabilidade nos próximos anos, uma vez que está a ser desenvolvida a ISSB (International Sustainability Standards Board), anunciada no COP26, em 2021, para garantir um standard universal para os ESG.

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Publicado em 
11/10/2022
 na área de 
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