Em 2019 um grupo alargado de CEOs americanos, em nome da associação chamada Business Roundtable, assinou um manifesto que defendia a necessidade de entender as grandes empresas como muito mais do que veículos para gerar o máximo valor para os seus acionistas. Alinhados com a teoria dos stakeholders, defendiam antes a necessidade de as suas organizações equilibrarem os interesses de um grupo mais alargado de partes interessadas. Caso o manifesto seja mais que uma simples página A4, o que está por demonstrar, os gestores de todo o mundo terão de cultivar com maior intensidade uma nova arte: a arte da escolhedoria.

A palavra, claro, não existe. Mas a ideia é esta: como fazer escolhas entre opostos sem ter que ignorar a tensão entre eles? A vida está cheia de oposições e trade-offs. O que se ganha num lado perde-se no outro. Assim é a vida e a vida de um executivo em particular: o que se dá ao gestor perde-se para o acionista; o que se dá ao cliente perde-se para o empregado; o prémio que dou a Maria não dou a Manuel. O que o manifesto da Business Roundtable vem lembrar é a necessidade de pensar as escolhas como processos que ocorrem no tempo e que implicam mais sentido de equilíbrio dinâmico e de ganho holístico do que a mentalidade orientada para ganhos independentes e fechados em bolsas temporais curtas.

A questão é que quando falamos de gestores, falamos de humanos. Falamos de nós. Quando falamos do colaborador, falamos de si e de mim. Quantas vezes tem hipótese de pensar nas suas escolhas de vida? E de escolhas menores, como aquela de fazer snooze no seu despertador? Ou se almoça peixe ou carne? A arte de fazer escolhas não é uma competência de elite. É uma competência para sobrevivermos. Para conseguirmos sermos mais sapiens sapiens.

Progressão não significa evolução. O ser mais evoluído é aquele que gere melhor a sua energia em função da sua capacidade de escolher mais rápido, melhor e mais eficazmente; mas para quem? Para si próprio.

Esta arte de trabalhar trade-offs e, quando possível, transformá-los em paradoxos, isto é, opostos que se definem mutuamente e que perduram no tempo, está no cerne na choosenology - ou escolhedoria. Como fazer as escolhas que melhor servem uma diversidade de agentes, da melhor forma possível, ao longo do tempo. Nesta perspetiva, fazer escolhas deixa de ser uma disposição natural e passa a ser uma competência a cultivar sistematicamente.

Não se trata já do paradoxo da escolha mas da escolha do paradoxo: como escolher paradoxalmente, isto é, de forma integrativa. Escolher de forma integrativa (uma coisa e a outra ou both-and) não é ir pelo caminho do meio ou das meias-tintas. É procurar encontrar formas de conciliar oposições, tirar partido da diversidade, apreciar a diferença, cultivar o respeito pela oposição.

Num mundo em processo de polarização, a arte da escolhedoria representa uma competência crítica para evitar que as escolhas de hoje se tornem um constrangimento para as possibilidades de amanhã.

 

Fruto da parceria Nova SBE x Mercer, nasceu o Adam’s Choice, uma experiência de aprendizagem para executivos, com a duração de 8 meses e uma fase de imersão de 28 a 30 de maio de 2020. Este artigo foi desenvolvido neste âmbito, em coautoria com a Carolina Almeida Cruz, corresponsável da Mercer por esta parceria estratégica.

Publicado em 
27/2/2020
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