Talvez a expressão “mundo V.I.C.A.” nunca tenha tido uma aplicação tão adequada como nos dias de hoje! A 2ª edição do Barómetro PME Magazine surge num momento em que a Europa, mas também o mundo, vive circunstâncias excecionais das quais muito poucos se lembrarão. Considerando que a recolha dos dados decorreu ao longo do mês de fevereiro, os resultados ainda não traduzem nem a reação imediata nem a reação refletida e, por isso, utilizá-los como base de análise contém, certamente, um elevado risco!

Se os anos 2020 e 2021 foram exigentes, a volatilidade e incerteza que, no dia em que escrevo, rodeiam o mundo empresarial são de forma a sugerir que os riscos e as preocupações manifestadas nas respostas ao Barómetro PME 2022 devem ser ampliadas, o otimismo deve ser mitigado e os empresários devem preparar-se para um ano difícil que porá à prova novamente as suas capacidades de resistência ao segundo choque brutal em menos de três anos. Focar-me-ei, pois, numa perspetiva de curto e médio prazo, nos desafios que o Barómetro 2022 aponta:

DESAFIO 1: PESSOAS

Independentemente da dimensão, setor ou prazo de reflexão, este é um dos desafios maiores que as empresas enfrentam nos próximos tempos. A escassez de talento está apontada em todos os setores de atividade como uma tendência pré-determinada (ou seja, com grau de incerteza muito baixo, mas com impacto muito elevado). Nestas circunstâncias, exigem-se duas ações muito relevantes de dois diferentes tipos de atores:

Poderes Públicos: co-desenhar com o mundo empresarial políticas inteligentes, pragmáticas e eficazes direcionadas a duas áreas fundamentais: educação e migrações. A primeira dirigida à adequação dos currículos às necessidades de uma sociedade do futuro e à formação ao longo da vida; a segunda dirigida à captação e à retenção de talento externo que mitigue as carências que, transitória ou permanentemente, os recursos internos não conseguem (ou querem) ultrapassar.

Empresas: robustecer o foco na retenção e desenvolvimento dos colaboradores. Face à escassez de talento que se sente (e sentirá), os líderes empresariais devem privilegiar políticas de gestão de recursos humanos direcionadas para o desenvolvimento de competências dos colaboradores, estabelecendo planos de evolução do cocktail de capacidades (técnicas, colaborativas, sociais…) necessárias, integradas em planos de incentivos direcionados à retenção.

DESAFIO 2: CRESCIMENTO RENTÁVEL

O Barómetro 2022 enuncia três desafios (Vendas / Dinheiro / Marketing e Comunicação) que decidi endereçar conjuntamente pois o seu grau de integração assim o justifica.

Poderes Públicos: no curto prazo volta a ser necessária a solidariedade da sociedade, através da disponibilização de fundos públicos, para ajudar as empresas de setores que estão ainda fragilizados pelos impactos da pandemia e/ou que estão a sofrer os impactos da guerra na Ucrânia nas cadeias de abastecimento e na estrutura de custos. Pelas declarações de responsáveis governamentais, tal parece estar no horizonte, sendo apenas necessário rapidez e agilidade para que os fundos cheguem efetivamente às empresas. Os fundos, nacionais e comunitários, de apoio às empresas necessitarão também, e certamente, de uma revisão para que tenham em conta a sustentação, no médio prazo, das consequências que a guerra na Ucrânia trará para toda a Europa e, naturalmente, para Portugal também.

Empresas: os líderes empresariais precisam de implementar ações de curto prazo, muitas delas duras e difíceis, para acomodar a componente de subida de custos de matérias-primas e energia que não vão ser capazes de transferir, na sua totalidade, para o preço dos produtos e serviços que colocam no mercado. É muito provável que nestas circunstâncias o crescimento de vendas que estava indiciado no Barómetro 2022 não se concretize ou, a concretizar-se, que ocorra com uma redução de margem que não vai trazer a libertação de fundos que se estimava! O que nos remete para uma cautela elevada das disponibilidades financeiras das empresas e para uma gestão criteriosa do balanço, quer na componente de dívida quer na componente de investimentos. Naturalmente, em situações difíceis como as que se viverão em 2022, é também o momento de aprofundar a transformação organizacional, quer seja através do redesenho de processos para maior eficiência, quer seja para diversificação das fontes de abastecimento para maior resiliência, quer seja para tirar partido de aquisições de empresas que não conseguem resistir às dificuldades, quer seja, ainda, para aprofundar a singularidade, percebida pelos clientes, de produtos e serviços que potenciem uma maior captura e retenção de clientes e consequentemente de vendas (com rentabilidade acrescida) no futuro.

DESAFIO 3: À PROVA DE FUTURO

Não é certo que os desafios de sustentabilidade e transformação digital tenham um progresso tão expressivo como o que enuncia o Barómetro 2022. Não sendo apenas desejável, pois o comboio do futuro não pára, é também plausível que a evolução do contexto mitigue o foco das empresas nestas áreas. Mais uma vez, os dois atores são chamados a agir:

Poderes Públicos: Qualquer revisão dos Fundos atrás referidos que, eventualmente, venha a ocorrer não deve descurar estas duas áreas (sustentabilidade e transformação digital), pois elas são essenciais para que a sociedade e o mundo empresarial consigam, passada a tormenta, fazer face ao impacto positivo na forma como todas as gerações querem viver!

Empresas: Ainda que no curto prazo haja um momento de suspensão dos planos transformativos na organização, já que os impactos a gerir são de um âmbito e uma profundidade que não deixam alternativa, não devem as empresas abandonar nem o esforço de redesenho de processos, produtos e serviços, nem a captura e retenção do talento capaz de ajudar na transformação da empresa para um futuro mais sustentável e com uma digitalização end-to-end com impacto muito positivo na sociedade e na rendibilidade das operações.

Termino com uma nota de esperança: Não há bem que nunca acabe, mas também …

 … não há mal que sempre dure!

Este artigo trata-se de uma republicação no âmbito de uma parceria com a PME Magazine. Leia o texto original aqui.

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Publicado em 
2/5/2022
 na área de 
Gestão & Estratégia

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