Com base no desempenho das empresas portuguesas durante a crise da dívida soberana, verificamos que os gestores recém-contratados se tornaram relativamente mais eficazes a conseguir melhores desempenhos para as empresas. Quando comparados com gestores que estão há mais tempo na organização, os recém-contratados exibem um desempenho superior em cerca de 18 por cento, quer em termos de vendas totais, quer em valor acrescentado.

Existe um trade-off natural no processo de seleção de gestores de topo (CEOs). Por um lado, os insiders acumularam mais experiência na empresa. Por outro lado, os outsiders podem ser capazes de inovar na resposta a novos desafios, explorando novas oportunidades. As empresas estão interessadas em fazer a melhor escolha entre candidatos diferentes, mas as próprias circunstâncias exigem gestores com perfis diferentes. No artigo de 2018, “CEO Performance in Severe Crises: The Role of Newcomers”, com Sharmin Sazedj e João Amador, analisamos o impacto no desempenho das empresas dos CEOs recém-chegados – contratações recentes, vindas de outras firmas. A nossa atenção recaiu sobre o período da crise da dívida soberana, em que as empresas sofreram, em simultâneo e de forma inesperada, um choque negativo, sem possibilidade de otimizar imediatamente a suas escolhas recentes de CEO.

Figura: Tenure e Desempenho, Antes e Durante a Crise

A figura acima apresenta os resultados de forma gráfica. A variável Crisis evidencia que a crise levou a uma queda das vendas e do produto acrescentado na generalidade das empresas portuguesas. Para o período anterior à crise das dívidas soberanas, a variável Newcomer aponta para um diferencial de desempenho indistinguível de 0 entre empresas geridas por recém-chegados e as restantes. Em contraste, a variável Crisis*Newcomer, que captura o diferencial no período de crise, revela que o desempenho das empresas geridas por CEO recém-chegados é superior, tanto em termos de vendas como de valor acrescentado das empresas.

Por outras palavras, no período anterior à crise, o impacto na gestão de um CEO recém-chegado ou de outro é estatisticamente indistinguível, se considerarmos as restantes características observáveis do gestor e da empresa. No entanto, assim que a crise da dívida soberana se instala, as diferenças passam a ser significativas, passando os CEOs recém-chegados a estar associados a desempenhos significativamente superiores, em cerca de 18 por cento. Este melhor desempenho sugere que a experiência acumulada na empresa é menos importante em tempos de crise, do que a flexibilidade e a disposição para assumir riscos de um CEO recém-chegado.

Por outro lado, e talvez mais importante, conseguimos ainda verificar quais as decisões por detrás do melhor desempenho dos gestores recém-chegados:

·         maiores níveis de investimento;

·         mais fácil acesso a financiamento de curto e, especialmente, de longo-prazo;

·         contratação de mais trabalhadores;

·         salários mais elevados;

·         maior abertura ao comércio internacional.

Em resumo, um período mais longo de experiência numa mesma empresa não se traduz em melhores resultados perante uma crise generalizada e de dimensões inauditas. Nesse caso, a inexperiência pode ser o outro nome para arrojo e criatividade.

O artigo original, “CEO Performance in Severe Crises: The Role of Newcomers”, de Sharmin Sazedj, João Amador e José Tavares, está disponível no website do Centre for Economic Policy Research (CEPR) e do Banco de Portugal. Um resumo do artigo pode ser obtido no site do blog de investigação Vox, do CEPR.

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Publicado em 
29/5/2019
 na área de 
Finanças & Economia

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