De todas as coisas maravilhosas que nos ensinam ao longo da nossa vida, por que motivo não nos ensinam também a pensar? Será que é porque se acredita que aprenderemos a pensar, de forma natural, como respirar? Ou por imitação dos outros, como apertar os botões de uma camisa? Mas como é que os outros pensam tão bem? Alguém, antes, os ensinou a pensar?
N

ão é estranho? E não fica ainda tudo mais estranho, quando o pensamento crítico tem sido mencionado, ao longo das últimas décadas, como uma das competências humanas mais importantes para o nosso futuro enquanto humanidade, por ser algo que nos diferencia das máquinas e nos dá vantagens competitivas sobre todos os engenhos não humanos?  

Quando sabemos que somos seres emocionais e que habitamos um mundo que foi programado para disparar mensagens dirigidas aos nossos corações, não é urgente parar para pensar como pensamos? 

E o que muda no nosso pensamento quando ficamos a saber que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que as verdadeiras e alcançam muito mais pessoas, como concluíram, em 2018, os cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)? E que cada publicação verdadeira atinge, em média, mil pessoas, enquanto que as publicações falsas mais populares atingem entre mil e cem mil pessoas? E o que será que existe de tão fascinante nas notícias falsas que não encontramos nas verdadeiras? 

Porque será que dedicamos tão pouco tempo das nossas vidas a desenvolver uma competência humana que nos ajuda a ser verdadeiramente livres, capazes de raciocinar e pensar pela nossa própria cabeça? 

Será que é porque queremos evitar o desconforto de pensar? E estamos apenas a confirmar o que as Universidades de Virgínia e Harvard concluíram, em 2014, de que os seres humanos sentem maior satisfação por fazer do que por pensar? Que preferimos dar-nos cargas elétricas do que ficarmos 15 minutos sozinhos connosco e com os nossos pensamentos? 

Ou será que é porque acreditamos que não é possível ensinar alguém a pensar? Será que não conseguimos ensinar ninguém a fazer melhores perguntas? A entender os nossos enviesamentos inconscientes que nos impedem de fazer as melhores escolhas? Será que não temos que pensar melhor em tudo aquilo em que acreditamos? 

Para além de passarmos a entender melhor o que está a acontecer à nossa volta, aquilo que lemos ou o que ouvimos, será que sabemos verdadeiramente o que ganhamos quando aprendemos a pensar? Saberemos que passarmos a aprender mais e melhor, porque fazemos mais perguntas e melhoramos as nossas estratégias de aprendizagem? Que descobrimos os nossos desequilíbrios humanos e os pedaços que nos faltam, porque ficamos a conhecer-nos melhor e a conhecer melhor os outros? Saberemos que passamos a fazer melhores julgamentos e a expressar opiniões mais sustentadas, porque questionamos as nossas crenças? Que conseguimos encontrar soluções mais criativas para os nossos problemas?  

E porque será que pensar de forma crítica nos transforma em seres mais criativos? Será que é porque nos ajuda a procurar a informação relevante e a estruturá-la melhor? Ou porque nos leva a raciocinar de forma lógica? Mas e a criatividade não é o contrário? Pensar de forma ilógica? Então de onde vem essa magia que liga o pensamento crítico à criatividade? 

Será que não pensaríamos todos melhor se parássemos para fazer as perguntas difíceis e não andássemos tão obcecados a correr atrás das respostas fáceis?  

Espelho meu, espelho meu... porque não descobri antes que o meu poder é bem maior do que o teu?

Esta é uma republicação do artigo publicado pelo Rock In Rio Humanorama - Leia o artigo original aqui

Publicado em 
3/11/2021
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