Podemos definir a criatividade humana de muitas formas. Uma das definições mais simples e, talvez por isso, mais profundas e interessantes é do publicitário espanhol Luis Bassat, que considera que sermos criativos é vivermos a vida a pensar como podemos melhorar as coisas que existem à nossa volta.
Os dados genéticos e as capacidades da Inteligência Artificial permitiram-nos agora concluir que esta capacidade de andar pelo mundo a perceber como podemos aperfeiçoá-lo, pode-nos ter afastado do abismo da extinção.
É altura de falarmos de um dos estados emocionais que mais estimula a criatividade: o tédio. Apesar do tédio ter potencialidades criativas inacreditáveis, tentamos evitá-lo a todo o custo. Incomoda-nos experimentar a lentidão do tempo. Como odiamos estar entediados, imediatamente o nosso cérebro tenta encontrar algo para sair desse estado, para preencher esse vazio. Esse algo, frequentemente, é bastante criativo. O problema é que nos custa imenso caminhar ou correr sem ouvirmos o nosso podcast ou música preferidos, não conseguimos estar parados numa sala de espera sem procurarmos um qualquer artefacto eletrónico e quando as crianças ficam aborrecidas procuramos imediatamente salvá-las do desconforto do enfado.
Uma vez que as organizações têm como principal missão ir melhorando as coisas à nossa volta, deveríamos estar, neste momento, a fazer algumas perguntas importantes.
Por que motivo a Frida Kahlo começou a pintar depois do acidente com o autocarro que a obrigou a ficar acamada durante meses? Teria sido para preencher o vazio do tempo? Será que para fugir do tédio desatou a pintar o que conhecia bem? Ela mesma? Os seus autorretratos?
E se, numa altura em que sofria de falta de inspiração e se limitava a copiar as obras do museu do Prado, o Picasso não tivesse ficado doente com escarlatina? E se não tivesse ficado quieto e parado para se recuperar e restabelecer, durante mais de sete meses em Horta de Ebro? Por que motivo é que teve o auge da sua criatividade depois de passar mais de sete meses numa aldeia de montanha, onde nada se passava?
Será que para conseguirmos viver e tentar melhorar as coisas que nos rodeiam precisamos, de vez em quando, de nos deixarmos entediar?
O que teria acontecido se o Picasso e a Frida Kahlo não tivessem ficado entediados?
E se em vez de tintas e telas, tivessem nas mãos, um smartphone?