Nos dias que correm, líderes de empresas assentam os seus discursos numa palavra: inclusão – “apresentamos um ambiente de trabalho inclusivo” é um exemplo. Afirmam-no como se fosse uma verdade absoluta. Mas será mesmo?
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açamos um exercício. Imagine que se encontra em processo de recrutamento de um candidato para a área de comunicação da sua empresa. Depara-se com o CV de um jovem de 29 anos com o seguinte perfil:

  • Licenciatura Ciências da Comunicação (com 6 meses de Erasmus em Espanha);
  • Mestrado concluído com a nota de 18 valores;
  • Experiência comprovada em mais diversas empresas – do audiovisual a farmacêuticas;
  • Membro dos escuteiros durante 7 anos.

É possível que os tópicos acima lhe tenham despertado curiosidade, certo?

No entanto, esqueci-me, propositadamente, de mencionar mais uma característica: o jovem é deficiente, portador de paralisia cerebral. Confesse, neste momento, após ler esta última característica, é muito provável que a imagem criada anteriormente tenha sido substituída por uma outra menos positiva e mais incerta, verdade? Isso pode ser sinal de duas coisas: desinformação ou que afinal, a sua empresa não está a aplicar bem o conceito de inclusão.

Ah, quanto ao jovem do perfil? É o mesmo que escreve o artigo que se encontra agora a ler.

Na sociedade, a pessoa com deficiência carrega consigo o label de incapacidade, de incapaz. Pela minha experiência em processos de recrutamento (mesmo naquelas empresas que proclamam ser inclusivas), ainda existe o instinto automático de reduzir as expectativas, de suprimir as minhas skills aos labels que transporto: deficiência e paralisia cerebral – por outras palavras, assumem à priori que todas as pessoas com deficiência apresentam défice cognitivo. Isso é mito.

A verdade é que o facto da minha descoordenação motora me fazer andar como um indivíduo que parece estar constantemente sobre o efeito do álcool, ou de uma outra pessoa se deslocar numa cadeira de rodas, não significa que não sejamos eficientes no meio laboral. Quanto mais rápido se interiorizar isso, mais rápido um local de trabalho se tornará verdadeiramente inclusivo.

Assim, o desafio que lhe deixo é o seguinte: quando estiver em busca de novos talentos, procure fora da caixa. Encare a deficiência apenas como a palavra eficiência que é, por um qualquer acaso, antecedida pela letra “d”. Estou certo de que se o fizer se irá surpreender e que será uma mais-valia para a sua equipa.

Quanto aos labels? Que fiquem somente nas roupas.

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Publicado em 
8/1/2021
 na área de 
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