Mas este novo capítulo será diferente, a criação de novas fontes de receitas através de produtos, serviços e experiências digitais tornou-se uma prioridade. E esta é uma tendência clara que vemos na estratégia das empresas líderes e com maior maturidade digital.
Ao recordar o início da transformação digital como um “driver” de negócio nos últimos oito anos, assistimos a dois momentos claros, que vou chamar-lhes de capítulo um e capítulo dois da transformação digital.
O primeiro capítulo foi a fase de inovação e experimentação, no qual assistimos ao desenvolvimento de soluções digitais para resolver problemas em silos da organização - no marketing, vendas e operações, etc. Foram criadas as primeiras ilhas digitais de inovação, e apesar da importância ao nível da experimentação, na maioria dos casos as soluções não eram escaláveis, e o ROI [return on investment] nem sempre claro.
Já no segundo capítulo, verificamos que as iniciativas de transformação digital tinham uma preocupação em alcançar um impacto financeiro positivo. O crescimento dos investimentos e gastos das organizações com tecnologias digitais e serviços associados chegou quase a atingir os 2 mil biliões de euros em 2022, e neste contexto todos os shareholders começaram a exigir maior retorno dos investimentos em transformação digital. Neste contexto, nos últimos dois a três anos, o ROI em transformação digital marcou o segundo capítulo.
E o que vem a seguir? Quais serão as principais características do terceiro capítulo da transformação digital?
A resposta é a Era dos Negócios Digitais! Ao longo dos dois primeiros capítulos, a maturidade digital da sociedade, governos e das próprias empresas acelerou, e encontra-se agora num nível mais alto, onde os líderes empresariais e investidores procuram negócios com crescimentos contínuos, sustentáveis e baseados numa estratégia digital em primeiro lugar (digital first).
As organizações ainda vão transformar-se, mas a transformação não é mais o foco principal num mundo digital. Os decisores de topo reconhecem que, em determinado momento, as transformações devem ser substituídas por uma meta maior e mais significativa a longo prazo, ou seja, por negócios digitais.
Isto quer dizer que a criação de valor dos negócios é baseada na utilização de tecnologias digitais, ao nível dos processos internos e externos; ao nível da relação com clientes, cidadãos, fornecedores e parceiros; até na forma como as organizações atraem, gerem e retêm colaboradores; e claro, como desenvolvem os seus produtos, serviços e experiências.
Embora esta seja uma tendência clara em todos os setores da economia, o valor e a característica da oferta serão específicos de cada setor, mas podemos observar três estágios distintos.
No estágio mais baixo de maturidade encontram-se as indústrias B2B, onde os produtos físicos e as cadeias de valor ainda estão na base da criação de receitas e as receitas digitais representam valores abaixo da média. No entanto, as expectativas é que, em função da conectividade dos ativos e da cadeia de valor, as receitas digitais cresçam de forma muito significativa nos próximos anos.
No estágio intermediário estão os setores B2B mais avançados, com foco na criação de canais diretos ao consumidor (por exemplo, serviços públicos, seguros e automóveis) e setores B2C menos maduros, como o setor público (por exemplo, governo, educação e saúde). Essas organizações estão agora a criar canais digitais para interagir com clientes, cidadãos, estudantes ou pacientes e rapidamente irão passar para o estágio mais avançado.
O estágio mais avançado pertence aos setores mais focados em B2C, como os serviços financeiros, retalho e jogos, media, nos quais verificamos que em breve mais de 50% da receita será proveniente de serviços, produtos e experiências digitais.
Neste contexto, os novos modelos de negócios digitais são vitais para a resiliência e sustentabilidade das organizações no médio e longo prazo. Uma das principais características do negócio digital é a "criação de valor comercial quantificável diretamente ou possibilitada pelo digital". Associado a isso, o foco principal da maioria das organizações é gerar novos fluxos de receita a partir de investimentos e recursos digitais. Empresas como Kroger, McDonald's e Adidas estão a gerar bilhões de dólares em negócios digitais.
Outro bom exemplo dessa transição é a LEGO — fabricante de brinquedos com sede na Dinamarca. Há menos de dez anos, o maior canal da empresa para o mercado era através do retalho, mais concretamente através da Toys "R" US, que fechou as portas em 2018. Agora é a Amazon. A LEGO também desenvolveu o seu próprio canal direto ao consumidor (D2C) e está a fazer grandes investimentos na experiência do cliente (CX), comércio eletrónico e experiências digitais. Paralelamente, a empresa lançou um modelo de negócio em subscrição que permite aos clientes receberem uma caixa surpresa da Lego todas as semanas. A LEGO está a fazer também grandes investimentos para monetizar novos ativos digitais, como é o caso dos LEGOS virtuais, desenvolvido através de uma joint venture multibilionária com a empresa de jogos EPIC Games, LEGO e Sony.
Em qual estágio está a sua organização? E mais importante do que isso, qual a estratégia da sua organização para desenvolver negócios com crescimentos contínuos, sustentáveis e baseados no digital? Lembre-se de que as tendências podem mudar rapidamente, e as novas tecnologias podem surgir a qualquer momento, influenciando a direção da Transformação Digital. Estar atualizado com as últimas novidades e adaptar-se às mudanças é fundamental para uma Transformação Digital bem-sucedida.