Sempre que se fala da tecnologia de blockchain existe uma tendência natural em associar a mesma apenas e só às criptomoedas. Sendo esta, sem dúvida, a face mais visível desta tenologia, na realidade a mesma vai muito além da sua utilização para a mineração, troca, ou armazenamento de cripto-ativos. Acredito, inclusive, que novas formas de utilização surgirão no futuro. Focando no sector bancário, a utilização da tecnologia de blockchain permite uma grande disrupção na sua atual forma de funcionar, sobretudo na evolução dos atuais sistemas centralizados (e fechados) para um conjunto de sistemas totalmente descentralizados, cuja segurança assenta, acima de tudo, na sua transparência e na possibilidade de validação, cumprindo com todos os requisitos de privacidade aplicáveis. Estamos a falar da sua utilização em smart contracts, sistemas de pagamentos, sistemas de trading e investimento, programas de loyalty ou sistemas de gestão de identidades digitais. No entanto, e como setor altamente regulado que é, para que as organizações do setor bancário possam adotar esta nova tecnologia em pleno, terão de esperar que a regulação evolua nesse sentido.

Por outro lado, é já hoje possível ao sector bancário e às suas organizações adotar a utilização de identidade digitais para permitir a contratação da sua oferta de forma totalmente digital e remota, ou seja, sem a necessidade do utilizador ter de se deslocar a um balcão físico. Embora ainda não assente em blockchain, este cenário está já previsto na regulamentação aplicável e é, para mim, um dos grandes disruptores deste sector na última década. A possibilidade de digitalização da sua oferta abre, à banca em geral, todo um novo mercado presente no mundo digital, maioritariamente aproveitado pelos chamados challenger banks, e que pode, inclusive, extravasar as fronteiras do seu mercado tradicional, normalmente o seu país de instalação. As identidades digitais vêm permitir o estabelecimento de um relacionamento de forma rápida, simples, transparente e confiável entre um utilizador e uma instituição bancária, permitindo cenários de abertura de conta, contratação de crédito, atualização de dados, entre outros, de forma totalmente digital e à distância. Estes cenários digitais, chegam até a ser mais transparentes que o seu equivalente no mundo físico, pois acabam por ser personalizados para cada utilizador, simplificam o acesso à informação e retiram a pressão de terminar os mesmos rapidamente e in loco, em frente a uma outra pessoa. Ou seja, providenciam mais tempo para cada um analisar toda a documentação e tomar as suas decisões de forma informada e consciente, levando a uma confiança acrescida entre as pessoas e as organizações.

De volta ao futuro, será expectável que o mundo das identidades digitais evolua para uma gestão descentralizada assente em tecnologia blockchain, mas em vez de estarmos apenas atentos à tecnologia que será utilizada, deveríamos estar preocupados com o modelo de disponibilização dessas mesmas identidades. No mundo físico, por exemplo, uma identidade está sempre associada a um cidadão e, como tal, a gestão dessa identidade pertence ao Estado / governo desse mesmo cidadão. Existem depois diversas formas de verificação dessa identidade, umas mais físicas e outras digitais. Sou da opinião que, o modelo para as identidades digitais deveria ser exatamente o mesmo. A gestão, em si, deveria pertencer aos Estados / governos de cada cidadão, como a Chave Móvel Digital em Portugal ou o eID na Estónia, competindo às empresas a criação de plataformas de verificação dessas mesma identidades.

Este artigo integra-se no ciclo anual de reflexão sobre tecnologia, negócio e sustentabilidade do Nova SBE Digital Experience Lab. Para receber mais notícias sobre os eventos e artigos que o Digital Experience Lab está a organizar, subscreva a nossa newsletter mensal.

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Publicado em 
18/11/2022
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