O programa Finanças para Todos, criado pelo Nova SBE Finance Knowledge Center (centro de conhecimento especializado em Finanças da Nova School of Business & Economics), foi criado para aumentar os níveis de literacia financeira em Portugal. A formação, que celebra o primeiro aniversário este mês, conta já com mais de 500 participantes e prepara-se para criar mais turmas em formato presencial e online.

Falámos com Gonçalo Vieira da Luz, professor na Nova SBE, e Rita Santos, que assegura as questões operacionais relacionadas com a implementação do projeto Finanças para Todos, para perceber o segredo do sucesso da formação e quais os próximos passos a dar para assegurar que chega ao maior número possível de portugueses.

Ainda há muita falta de literacia financeira em Portugal? (existem dados ou estudos que apresentem números concretos sobre este tema?)

GVL: Sim, infelizmente, é uma certeza. Esperamos que este ano tenha diminuído ligeiramente com o nosso projeto, mas a verdade é que a situação é crítica e vários são os estudos que o demonstram.

O estudo mais preocupante foi publicado em 2020 (Lusardi e Klapper, 2020) e divulgado pelo Banco Central Europeu. Consistiu num inquérito com cinco perguntas sobre conceitos básicos de finanças que foram colocadas às populações dos vários países, e os portugueses foram os que responderam com menor taxa de sucesso. Estamos aqui a falar de conceitos como inflação, diversificação de risco ou juros compostos. Só 26% dos portugueses que responderam ao inquérito conseguiram acertar pelo menos três das cinco perguntas, comparados com 66% em países como Alemanha ou Holanda.

Se queremos estudar mais aprofundadamente o estado da literacia financeira em Portugal, devemos também olhar para os resultados dos Inquéritos de Literacia Financeira feitos à população portuguesa (realizados pelo Plano Nacional para a Educação Financeira).

No último inquérito destes (realizado em 2020), 60% dos participantes afirma não ter o hábito de tomar nota das suas despesas e também 60% não tem um plano para as suas finanças. Esta falta de hábito e planeamento não são aconselháveis e procuramos logo nas primeiras sessões de formação do Finanças para Todos alertar para a importância de termos um registo e um plano para as nossas finanças pessoais.

Outra estatística importante, e esta prende-se já com uma fase em que conseguimos poupar, é que, apesar de 65% dos participantes dizer conseguir poupar (o que, mesmo assim, é uma percentagem pequena), quase 60% dos participantes (ou seja, mais de 90% dos que dizem poupar) limita-se a colocar as suas poupanças numa conta à ordem, o que significa que, sempre que a taxa de inflação for superior às taxas remuneratórias dos depósitos, como acontece atualmente de forma gritante, as poupanças estão a perder valor (ou, por outras palavras, poder de compra) à medida que o tempo passa. Daí considerarmos também tão importante abordar temáticas como investimento e produtos financeiros, para que as pessoas percebam que esta é uma possibilidade ao alcance de praticamente toda a gente e que não precisa de ser um bicho de sete cabeças.

Como é que o programa Finanças para Todos está a ajudar a combater esta falta de literacia?

GVL: Se temos um problema grande de falta de conhecimentos financeiros, o objetivo primordial do Finanças para Todos é preencher essa lacuna, e para isso oferecemos formações gratuitas de literacia financeira. Formamos turmas, quer em formato presencial, quer em formato online, e estas pessoas recebem um conjunto de cinco sessões de formação que cobrem diversos tópicos, como poupança e planeamento, investimento, reforma, entre outros.

Mas o conhecimento para nós não é um produto em si. No tema da literacia financeira temos de ter sempre em mente qual é o real objetivo final: que as pessoas ganhem ferramentas para poderem ter comportamentos financeiros mais saudáveis e evitarem os comportamentos financeiros perigosos, que sabemos muita gente não consegue fazer. Estamos a falar sobre alterar padrões de consumo e com isso aumentar a poupança: como evitar fraudes; como vencer a inércia para negociarmos os nossos contratos; etc. Queremos muito que os nossos alunos saiam da aula motivados para darem uma volta às suas finanças e começarem uma vida financeira mais saudável – que é um pilar tão importante mesmo no nosso bem-estar físico e mental

Aproveito ainda para acrescentar que, além da vertente das formações, o Finanças para Todos pretende espalhar conhecimento fidedigno na área das finanças pessoais, através do nosso website e das redes sociais.

O programa tem tido muita procura?

RS: Felizmente sim! Ou infelizmente, se virmos do ponto de vista de que o ideal seria haver poucas pessoas a precisarem do programa. Mas é bom que se tenha noção das lacunas de conhecimento e procurar soluções para reforçar a aprendizagem.

Este ano já formámos cerca de 250 pessoas no formato presencial, no campus da Nova SBE. Devido à elevada procura, formámos ainda mais três turmas em regime online, cada uma com cerca de 100 participantes.

Apesar de termos registado uma explosão no número de inscrições após aparecermos numa reportagem televisiva, queremos manter as nossas turmas com uma dimensão controlada, porque é fundamental que possa haver uma interação entre os formadores e os formandos.

Como funcionam as aulas? Existe partilha de dúvidas e relatos pessoais dos vossos participantes? Qual é o feedback que os vossos alunos vos dão?

RS: Para nós é extremamente importante que haja espaço para as pessoas colocarem dúvidas e partilharem as suas experiências, porque com esta proximidade conseguimos melhores níveis de sucesso na aprendizagem. E tem resultado muito bem: como temos cinco sessões de formação por turma, de aula para aula as pessoas vão começando a abrir-se mais e a interação vai melhorando.

Nas turmas presenciais cria-se um ambiente muito bom, os próprios participantes conhecem-se e partilham uns com os outros. A nossa equipa é muito jovem e empática, o que também ajuda a que as pessoas se sintam à vontade na sala de aula, queiram colocar dúvidas e, por vezes, até falar sobre os seus problemas e desafios.

Por exemplo, já houve pessoas a partilharem a sua experiência com um negócio próprio e as dificuldades em organizar as finanças pessoais num contexto de rendimento mais volátil, ou quem tenha contado casos conhecidos de problemas de sobre-endividamento e de como é que a situação evoluiu.

Mesmo no formato online, que já não é tão propenso a este contacto tão próximo, conseguimos que as pessoas se sintam bem para colocar dúvidas e partilhar experiências pessoais. É uma área na qual também queremos melhorar no futuro, porque em formato online o contacto e a partilha são naturalmente mais desafiantes.

Quais são os planos para o futuro? Vão continuar a dar estas formações?

GVL: O grande objetivo é conseguirmos chegar a todos aqueles que nos procuram! Vamos escalar o número de formações, especialmente em formato online, para conseguirmos chegar a mais mais pessoas e a mais pontos do país – temos muitos pedidos de inscrição por responder.

Claro que pelo caminho temos de estar sempre a pensar em como melhorar o programa que já temos, como é que precisamos de ir atualizando os conteúdos e as nossas abordagens, mas o modelo está montado e teve sucesso e, por isso, agora temos de replicar para o máximo de pessoas possível, sem perder a qualidade e a proximidade que nos caracterizam!

 

Referências

Klapper, L. and Lusardi, A. (2019) “Financial Literacy and financial resilience: Evidence from around the world,” Financial Management, 49, pp. 589–614.

Já conhece o programa
Finanças para Não Financeiros?
Publicado em 
8/5/2023
 na área de 
Finanças & Economia

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