Tentei e não consegui encontrar algum comentário que contrariasse a ocorrência de recessão em 2023! Encontrei, sim, diferenças de gradação: para uns será severa, para outros suave… Para uns é possível, outros, mais pessimistas, acham que é provável, mas todos a consideram plausível!

As causas são todas elas coincidentes: as tensões geopolíticas, a instabilidade do mercado da energia, a persistência de inflação alta, o aumento das taxas de juro, o aperto no mercado laboral, a escassez de algumas matérias-primas essenciais, a recuperação apenas parcial das cadeias de abastecimento, a economia global, bem como a europeia, em versão tépida. Ou seja, estão reunidas todas as condicionantes para ser improvável evitar uma recessão mesmo para quem é um otimista por vezes irritante!

Talvez o tema da inflação seja, hoje em dia, aquele que mais ocupa os media e que, por isso mesmo, mais se debate, fundamentalmente pelo facto de os bancos centrais o estarem a combater, como seria de esperar, através do aumento das taxas de juro de referência, isto é, através do aperto da política monetária. Os economistas reconhecem, no entanto, que existe um desfasamento temporal entre este aperto e os impactos na economia real, pelo que é plausível que a recessão venha a ocorrer só no segundo semestre de 2023… E isto são boas notícias! Porquê? Porque, se ainda não se prepararam, estão a tempo de tomar um conjunto de iniciativas que vos robusteçam para a sua chegada, focando a tomada de decisão estratégica nos seguintes eixos:

 

FOCO NO CASH

Qualquer organização que não se foque e não dê o trono real ao cash-flow ressentir-se-á profundamente em qualquer circunstância, mas, por maioria de razão, em recessão, quer ela seja suave ou severa. Manter os fluxos de caixa saudáveis e a fluir é um determinante essencial de desempenho; não conseguir transformar o EBITDA em cash é uma preocupação maior para qualquer gestor ou empresário. Sendo necessário ter uma economia de negócio forte, ela de nada vale se o cash que deveria gerar tal negócio ficar amarrado num aumento do capital circulante. Cuidado, pois, com a gestão dos prazos médios de pagamentos e de recebimentos, assim como com o avolumar das existências que atam a margem ao armazém! E cuidado com a carteira de clientes ou com a presença em alguns mercados cuja rendibilidade é manifestamente prejudicial ao fluir do cash.

 

FOCO NOS CLIENTES E NO CRESCIMENTO

Apenas conheço uma entidade que paga salários: os bons clientes! Quando tal não acontece as manhãs facilmente se transformam em pesadelo. Falem com os bons clientes, foquem-se na qualidade e na singularidade dos produtos e serviços bem como em prestar um serviço de excelência. E, com a mesma determinação, encontrem novas avenidas de crescimento, escalando o negócio e expandindo para novos mercados. Em períodos de pré-recessão é normal, tal como digo acima, aparecerem oportunidades de conquista de posições de mercado originadas na “limpeza” de carteira de clientes ou oportunidades de presença em mercados para outros pouco atrativos.

 

FOCO NAS MARGENS

É plausível que ocorra a redução das margens do negócio, pelo que ainda há tempo para iniciar a revisão de processos por forma a aumentar a produtividade da organização, reduzindo tempos e custos de produção, distribuição e vendas, bem como os custos administrativos. Manter nas organizações um desafio permanente de inovação conducente ao redesenho de processos que retirem excessos de custos é a forma de compensar nas margens do negócio uma agressividade competitiva, que é natural encontrar nos momentos mais difíceis dos ciclos económicos.

 

FOCO NA DÍVIDA

O financiamento será mais difícil de obter e mais oneroso. Paguem a dívida mais cara que têm no balanço ou melhorem o custo médio ponderado dos capitais permanentes, renegociando, enquanto podem, endividando-se criteriosamente e encontrando fontes de financiamento para capitais alheios e/ou próprios cujo custo não impeça a concretização do plano de investimentos.

 

FOCO NO PLANO DE INVESTIMENTOS

Se é verdade que “não há bem que sempre dure” também não esqueçam que “não há mal que nunca acabe”! Há três áreas fundamentais para poderem sair resilientes e robustos do período que se avizinha:

·         gestão estratégica para aquisição e retenção de talento, pois a escassez de trabalhadores talentosos para os desafios do desenvolvimento empresarial continuará e os que souberem gerir equilibradamente o talento de que necessitam sairão vencedores;

·         gestão faseada e consequente da digitalização end-to-end do negócio, uma vez que não é possível a ninguém parar o futuro, mas está nas vossas mãos quererem, ou não, fazer parte dele;

·         aprofundamento da responsabilidade empresarial e social para a sustentabilidade ambiental do negócio, pois a minha experiência mostra que a melhor forma de criar valor acionista e, ao mesmo tempo, valor partilhado com a sociedade é ser genuinamente sustentável.

Por fim, os riscos que se terão de enfrentar em 2023 e 2024 são reais e inevitáveis. Assim termino este meu contributo recordando a todos uma frase que já me acompanha há muitos anos no mundo dos negócios e que adaptei de uma outra atribuída a Demétrio, o Cínico:

“Sorte é o que acontece quando a oportunidade se encontra com a preparação”.

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Publicado em 
29/12/2022
 na área de 
Finanças & Economia

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