O modelo comum de crescimento de um negócio ou produto tem a forma de um “S” (deitado). No início verifica-se um forte crescimento que eventualmente culminará num período de estagnação e consequente declínio. Daí a “maldição” das três gerações das empresas familiares: “pai rico, filho nobre, neto pobre”.

Uma família generativa procura oportunidades para criar curvas “S” ou prolongar as existentes. A inovação e o empreendedorismo deixam de ser ferramentas exclusivas da geração fundadora e, a cada nova geração, a família reinventa-se, melhorando e adaptando o seu portefólio às exigências do ambiente que os rodeia. Para tal, é feito o refinamento dos membros da família que querem continuar empenhados na missão da família e compradas as ações daqueles que pretendem seguir uma nova direção.

Para que uma família empresária se torne numa família generativa terá de trabalhar o ciclo da resiliência, isto é, preparar e antecipar, empenhar-se e decidir e, finalmente, redefinir e renovar-se. Este é um trabalho muito difícil e pode ser muito duro do ponto de vista emocional, uma vez que é preciso mostrar a importância de mudar as pessoas que foram muito bem-sucedidas e que nem sempre veem essa necessidade. Adicionalmente, mesmo que compreendam a necessidade, é preciso decidir como vamos mudar, é preciso ouvir toda a gente, dar voz, fomentar a inclusão no processo de tomada de decisão. A recompensa poder ser a salvação da família, uma vez que durante todo esse processo, as divergências e dificuldades são conversadas e resolvidas e a família sai mais forte e unida.

 

O Museu do Caramulo: Resiliência como forma de vida

No início do século XX, os sanatórios eram refúgios para doentes com tuberculose, onde ficavam completamente isolados do resto da sociedade. O Caramulo, pela sua localização, era indicado, dada a sua altitude e natureza, para a construção destes centros de saúde. Jerónimo de Lacerda, médico, cria nesta região, a maior estância sanatorial do país e da Península Ibérica, em 1921.

Após a II Guerra Mundial, chega o tratamento que consegue curar 95% dos pacientes e, com essa descoberta, é anunciada a morte das estâncias senatoriais. Este poderia ter sido o fim desta família enquanto família empresária. Todavia, os filhos do Dr. Jerónimo de Lacerda, Abel e João, optam por uma vertente empreendedora, procurando formas alternativas de construir e expandir o seu legado familiar. Surge assim o projeto de retirar a conotação de doença ao Caramulo e converter este belo lugar numa atração cultural e artística.

É assim que surge o Museu do Caramulo, um edifício com os mais modernos conceitos de museologia, capaz de expor a coleção de arte constituída por mais de 500 peças de pintura, escultura, mobiliário, cerâmica e tapeçarias, que vão do antigo Egipto até Picasso. Ao lado, surge o primeiro e mais importante Museu do Automóvel do país, vocacionado para expor 100 automóveis e motos. Mas estas não são as únicas iniciativas realizadas para tornar o Caramulo numa atração cultural. Caramulo Experience Center, Caramulo Motorfestival, Jornal dos Clássicos e Salão Motorclássico, entre outras, compõem um portfólio diverso, mas autêntico.

Trabalhar o ciclo da resiliência, permitiu a esta família generativa, antecipar, agir e redefinir o seu caminho. O Museu fica no Caramulo, a 300 km de Lisboa, mas já foi visitado por mais de um milhão e meio de pessoas.

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Publicado em 
21/10/2022
 na área de 
Gestão & Estratégia

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