Todos os anos, por esta altura, somos invadidos por um conjunto de previsões e de tendências tecnológicas e de inovação que, de acordo com os mais diversos especialistas, vão “definitivamente” marcar o ano seguinte. Em alguns casos, essas tendências mostram-nos alguns sinais no meio de todo o ruído; noutros, bastante mais comuns, recebemos apenas exercícios de adivinhação pura. Há vários anos que nos garantem que vêm aí as definitivas confirmações da realidade virtual, do blockchain, da computação quântica, da web3, do metaverso, de tudo e do seu contrário.

A verdade é que a evolução tecnológica é hoje profundamente acelerada, mas, mais do que o efeito singular de uma única tecnologia, é sobretudo o efeito combinatório e interdependente destas tecnologias que tem, de facto, transformado as nossas vidas.

Pensar que a disrupção é eminentemente gerada pela evolução tecnológica é um viés muito comum nos meios da inovação e do empreendedorismo. Porém, a verdade é que as mais profundas disrupções dos últimos anos têm sido geradas por outras fontes porventura mais prosaicas: a saúde pública, o ambiente, a demografia, a distribuição da riqueza, a confiança (ou falta dela), os populismos, a geopolítica. E esta combinação de fatores de disrupção é profundamente amplificada num mundo totalmente hiperconectado.

Há muito que as empresas perceberam que a velocidade da mudança deve motivar uma preparação para vários cenários possíveis de forma a antecipar e evitar a disrupção. Nesse sentido, observamos recorrentemente a implementação de estratégias que visam garantir que as empresas conseguem ser “future-proof”. E, na minha opinião, esse é um erro crasso. Ser “à prova de futuro”, para além de impossível, é completamente indesejável. Porque haveríamos nós de querer “imunizar” a empresa em relação ao futuro? Acreditamos mesmo que é possível tomar uma espécie de vacina que nos proteja do futuro? É isso que queremos?

O futuro – próximo ou mais longínquo – tem de ser encarado de frente. Tem de ser abraçado e acolhido como oportunidade, não como ameaça. Acreditar que é possível evitar o futuro ou evitar a disrupção é simplesmente negar a realidade. A disrupção já não é uma eventualidade que se tenta evitar a todo o custo; a disrupção é uma inevitabilidade que se deve tentar liderar. E esta é uma realidade que os últimos anos se encarregaram de confirmar indubitavelmente.

Isto significa que, gostemos ou não, a disrupção – e a forma como será possível liderá-la – passa a ser o maior desafio que as empresas têm perante si em 2023.

Este ano que agora começa será, porventura, o momento absolutamente crítico para que as empresas possam enfrentar de frente o seu maior desafio: a construção do seu novo legado. Assumir que o legado que as empresas possuem hoje, ainda que seja um fator de orgulho e até de competitividade presente, não assegura por si qualquer tipo de competitividade futura é uma decisão difícil de tomar e uma tarefa dura de empreender. Exige humildade e coragem. Exige clarividência e visão. Exige razão e ambição.

Estamos numa encruzilhada do tempo e da história, onde as diferentes fontes de disrupção confluem para uma espécie de tempestade (im)perfeita que pode redesenhar muito daquilo que é a nossa vivência em sociedade. Ninguém terá grandes dúvidas de que se avizinha um ano extremamente complexo, com prováveis recuos sociais, ambientais e económicos. Vem aí tempos difíceis. Mas é precisamente por isso que este é o tempo para agir.

Este é o momento para as empresas olharem para os seus fatores de disrupção e para os enfrentarem. Já nem sequer estou a falar no “future-ready” que também muitas empresas procuraram nos últimos tempos... Não, estou mesmo a falar de enfrentarem e liderarem a sua própria disrupção. Este é o tempo para experimentar, para explorar e para procurar. Este é o tempo para questionar todas as assunções e preconceitos estabelecidos nas empresas e confrontá-los com o futuro. Este é o tempo para ser “future-driven”, para tomar decisões informadas pelo futuro e não pelo passado.

Acredito profundamente que os próximos anos serão o momento mais crítico para que as empresas procedam ao seu ajustamento e à sua preparação para esta nova “estranha forma de vida”, onde a disrupção é inevitável e a ambiguidade permanente.

Por isso acredito que a inovação tem um papel fundamental na construção dos novos legados que as empresas deixarão para o seu futuro.

Porque a inovação – se pensada e executada de forma estratégica – serve exatamente para conseguir entregar objetivos estratégicos em contextos de extrema incerteza

Já conhece o nosso
Mestrado Executivo em Inovação & Empreendedorismo?
Publicado em 
27/1/2023
 na área de 
Inovação & Mudança

Mais artigos de

Inovação & Mudança

VER TODOS

Join Our Newsletter and Get the Latest
Posts to Your Inbox

No spam ever. Read our Privacy Policy
Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.